segunda-feira, 31 de julho de 2006














Pacu – Um amálgama de coisas sensíveis sem nome

Se isto fosse um diário teria várias coisas a falar: as minhas aventuras pelo mundo gastronômico e artístico, o aniversário do meu pai, a entrada triunfal no universo dos adeptos da cafeína (e, a despeito da irrelevância de um mero hábito adquirido por uma jovem jornalista, é um processo interessante, a julgar pelo caráter subjetivo que tal aquisição possui), a xícara em cima do dicionário para não manchar a mesa e outras idiossincrasias cotidianas irrisórias.
Se fosse seguir a “tradição” deste blog – ou seja, nada mais do que estes detalhes funestos por uma ótica egoísta, persuasiva e, de certo modo, reflexiva –, teceria aqui uma série de assuntos acumulados nos meus arquivos mental e computacional. Há vários temas interessantes – para mim, pelo menos – como um “mini-ensaio” de Buenos Aires 100km; o mote da obra O último leitor de cujo conteúdo só conheço uma frase da sinopse; uma principiada impressão das primeiras duzentas páginas de A Montanha Mágica; e uma síntese e alguns filmes que aluguei para os dias chuvosos.
Mas, porém, contudo, entretanto, no entanto – como sempre realçam os falantes quando desejam enfatizar a adversidade das frases seguintes – um pensamento assaltou-me o final de semana inteiro. Um pensamento proibido, não, note-se, em virtude moral (daria uma discussão bastante magníloqua), mas social.
Explico: não me sinto “moralmente” culpada por pensá-lo; por outro lado, estou ciente de que, se meu círculo social tivesse acesso a tais reminiscências, minha sensibilidade perante ele tornar-se-ia ignóbil. Só pensei e senti, dado que, durante este recesso de dois dias, não consegui distinguir o limite – atualmente, imperceptível – entre estes dois, hum, mundos(?).
Admito que tal pensamento – ou sentimento, não sei, estou confusa – faz-se presente há tempos e, atualmente, não sai da minha cabeça, ou do meu coração? Ou de ambos? Entendo-o como uma mistura de angústia, saudade, alívio, tristeza, compaixão, paixão, raiva, ternura, aversão, indiferença, preocupação, mas nenhum em específico. É um amálgama de coisas sensíveis sem nome. Que tal um senti/pensamento Pacu? Em referência a Abril Despedaçado, onde nomeiam de Pacu o menino que chama Menino, ou seja, também um “sem nome”. Não encontro definição mais apropriada.
O fato é: não pude conter-me, mandei os outros temas às favas e achei conveniente mencioná-lo aqui. Vejam, não tenho um pingo de lirismo para tratar disto, não por afetação, é porque não sei mesmo. Afinal, estes “súbitos” vêm subestimando descaradamente meus estudos, leituras, afazeres, disponibilidade e todas tantas que couberem na minha pacata rotina.
E, como a maioria dos casos que permeiam o campo emocional – portanto, neste ínterim, estou incluída na normalidade boçal desta sociedade –, o responsável por tal alarde é indiferente à minha existência, não é sensível ao meu interesse, sequer aos meus devaneios, tampouco aos meus sentimentos, menos ainda, se importa com qualquer um deles.
No fundo, queria ter uma sensibilidade mais ignorante, menos compreensiva e um tanto quanto adequada...
Mentiras sinceras me interessam
Cazuza
Dica: Se alguém te fizer a fatídica pergunta: o que sentes por mim? Responderás: Pacu. E apresse-se em explicar sucintamente antes que a pessoa pense que tu a difamaste.
Proeza

O farfalhar incessante de seus cabelos sobre a face impedia-a de avistar mais adiante. Os inumeráveis transeuntes do aeroporto obstavam por completo a procura pelo tal colete vermelho. Pensara por um instante tê-lo visto em meio à multidão, manteve-se impassível. Demonstrar sua ansiedade era o mesmo que entregar a alma ao vento gélido que açoitava seu corpo. E, como tal situação caberia encontrar a delimitação entre o meta e o físico, preferiu não arriscar: enfiou a mão esquerda no bolso, virou o rosto decididamente e encarou o forte sopro glacial. De frente. Firme. Suas faces enrubesciam enquanto a escassez humana procurava avisá-la de que as horas passaram mais do que L. percebera. Um pedaço de barbante, mania contraída na infância, corria todo o tempo entre os dedos e adquiria as mais diferentes formas. Seus olhos desceram lentamente até uma das mãos para verificar o resultado de sua destreza: um laço perfeito produzido apenas com a destra, truque hereditário e mais nada. O dono do colete não chegara, porém ela não perdera a habilidade. Entrou no carro, pendurou sua mais recente e antiga façanha junto ao retrovisor interno e desatou a chorar pesadamente.

[Aí, Antonio, a tentativa]

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Faço-me entender desde já: minha vida acadêmica está distribuída em pastas de arquivos de computador. Nada demais não fosse a minha vontade incontrolável de tê-la disponível em pastas palpáveis, organizadas, etiquetadas e devidamente encaixotadas tal como estão vários registros "intelectuais" desde os meus quatro anos que não ultrapassam um aglomerado de "rabisqué" colorido, palitos colados e recortes de revista.
Os fervorosos adeptos da tecnologia diriam: não seja por isto, minha cara, imprima-os e guarde. Os salutares greenpecianos acrescentariam uma resma de condenações ecológicas pelas árvores cortadas para manter apenas uma frescura tátil e, por fim, eu me veria diante do primoroso impasse de arranjar mais um lugar no meu, já tão estreito e amontoado, apartamento.
Deixo claro: trata-se de uma boa parte das minhas "produções", não todas e nem as melhores. Algumas devem estar nas mãos dos meus professores, outras na diretoria, outras perdidas, outras na casa da mãe e outras coloco aqui.
Diante desta angústia tátil, visual e – sinceramente – afetiva, fui buscar no computador alguma coisa para colocar neste blog. E, caminhando pelas pastas, detectei um fenômeno nada interessante e nada extraordinário, apenas curioso. Na pasta que eu intitulei "Literatura" – mais pelo nome institucional da disciplina do que por um critério objetivo pessoal de definição dos temas – encontrei um amontoado de textos e pesquisas, de certa forma, sobre literatura, mas completamente jornalístico. Explico-me: a linguagem era essencialmente jornalística, não havia nenhum "exercício literário", por assim dizer. Até os temas e propostas de redação em que, acredito eu, o professor tentara buscar despertar esta "veia" letrada, o resultado foi desconfiável para não dizer desastroso.
No entanto, na pasta "PDJ" – referente à Produção e Difusão – que, institucional e disciplinarmente, está relacionada à produção de matéria estrito senso, havia um contingente considerável de textos, digamos, de treinamento. Seria muita pretensão dizer que escrevi alguma coisa neste sentido – literatura –, mas o esforço textual com este viés foi encontrado, em grande parte, nesta pasta.
Pus-me a pensar se isto, de alguma forma, se tranpôs para a minha subjetividade, interpretação e apreensão de ambas particularidades (literatura e jornalismo)...
Ainda estou pensando....

terça-feira, 25 de julho de 2006

Eu gosto de pessoas assim...

que viajam. Não precisa viajar muito, tampouco ter uma imaginação digna de um espetáculo pirotécnico da Disneylândia. Basta ser, hum, diferente. E, isto sim, é muito difícil. Muitas vezes, uma mera colocação, ou uma dúvida simples – porém instigante –, ou um comentário útil, uma relação pertinente impressiona-me mais do que qualquer discurso bacharelesco acompanhado de verborragias e analogias prolixas. É só a conversa enveredar pelos campos de domínio do indivíduo, pronto! O circo está montado e seu ouvido também.
Se a pessoa é mestre ou doutor no assunto, prepare-se, tudo o que você disser será mera redução e todo comentário teu não abarcará o conglomerado de pressupostos que o dito cujo considerou nas primeiras oitenta e cinco páginas de sua tese (em Times 10, espaçamento simples). E, em tempos de “nova etiqueta urbana”, você será obrigado a ouvir tudo atentamente.
Nenhum preconceito com quem teve a coragem de enfrentar uma defesa acadêmica, pelo contrário, é admirável. Aprendi, aprendo e aprenderei muito com alguns deles, mas, como podem perceber, eu falava dos chatos. Fala-va, porque eu comecei o texto tratando de quem eu gosto e pouco me importa quem não se inclui nesta categoria.
É claro que para ter a habilidade de ser tão fascinante com tais sutilezas, é necessário um certo requinte vocabular, um charme pessoal, uma inteligência peculiar, um cafezinho e, por último e não menos importante mesmo, simpatia. E hoje, ao que tudo indica, parece-me que encontrei a agradável reunião destas características: num... livro (o cafezinho fica por minha conta).
Aquela velha história, porém adulterada: “não li e gostei”. Só o levantamento da questão do autor já me agradou, nem sequer fui procurar a obra na livraria – ainda. Tal é a suscitação que o livro despertou em mim, que, no próximo post, pretendo discorrer sobre o mote alheio. Curiosos? Eu também. Por mim, começaria agora, mas o texto ficaria longo e, por experiência bloguística, a tendência é torção de nariz e leitura por educação.
Só vim avisá-los e, óbvio, gerar algum suspense.
Para não deixá-los cabisbaixo e arrastando vossos pezinhos no chão (afinal, já é o terceiro post que não me “exercito”), discorrerei sobre uma constatação cotidiana e, sendo assim, permito-me a abrupta e abismal mudança de assunto para o tema aí debaixo.

Ouvir Futebol e Jogar Teatro
Afogada nas minhas leituras rotineiras, descobri que à época do teatro elisabetano, meados dos séculos XVI e XVII, (sim, período shakesperiano; e não, não estou com aura romeu-julietanística) as pessoas costumavam “ouvir” o teatro. Como este gênero, apesar de sua intensa e alcantilada ascensão neste momento, ainda era incipiente, o foco estava muito mais nas palavras (sonetos, por exemplo) e no forte apelo à imaginação do público do que as superproduções visuais que conhecemos hoje. Isto era latente até na língua inglesa, as pessoas iam “listen” e não “watch” ou “see” o evento.
Na viagem de volta à Campinas, eu vim ouvindo e, por sua vez, “assistindo” a um jogo de futebol pelo rádio. Todo mundo já deve ter feito esta observação, mas reservo-me no direito ser redundante: quando um jogo é transmitido pelo rádio temos a impressão de que, a qualquer momento, o gol sairá pela garganta do narrador. É só a bola ultrapassar o meio de campo no pé do adversário e zás: lá está você roendo as unhas. Pode ser Ranchinho-fundo contra Buraquinho-do-nada, a energia do locutor aliada à técnica fantástica de nos fazer acreditar que é tudo ou nada – o tempo inteiro – mantém-nos em constante estado de tensão e alerta. Portanto, até Fulano das Quintas e Mané das Tantas tornam-se verdadeiros craques de bola e o são.
Afinal, você não vê se o uniforme é da Nike, Adidas ou Reebok; se a chuteira é vermelha com cadarço de ouro, ou prata com contador de passos ultra high-tech; tampouco se ele tem sorriso colgate, corpo escultural ou fez propaganda de banco; pois isto não importa. O que você tem é a narração e o espetáculo acontecendo, tal como nos teatros elisabetanos. O público cultural ainda tinha o prazer de estar de corpo presente, mas o cerne da trama estava na concatenação das palavras e na força de imaginação da platéia. A “limitação” visual não diminuiu nem um pouco (pelo contrário) a potencialidade e a qualidade das criações e apreciações teatrais.
Diderot, na “Carta sobre os cegos para uso dos que vêem”, discorre sobre a capacidade dos cegos em conceber na imaginação objetos geométricos como cubo, pirâmide, sólidos de revolução e fazer raciocínios lógico-matemáticos tão complexos quanto a própria perplexidade dos que vêem em entender isto. Portanto, a elaboração do raciocínio está muito mais na capacidade de articular pensamentos do que de, propriamente, termos uma representação visual de algum fenômeno para depois “pensá-lo”.
O público inglês do século XVII não precisava de uma cena hollywoodiana para apreender as críticas que os autores e atores apresentavam. Não podemos descartar, é claro, que, ao longo do tempo, as concessões do público foram sendo feitas de tal forma que, atualmente, não é preciso mais avisá-lo que três soldados representam um exército inteiro.
Podem dizer que será exagero, pseudopatriotismo, adoção ao marketing esportivo, alienação de Copa do Mundo, mas, digam o que quiserem, eu vou dizer: esqueceram de avisar os nossos jogadores que, de certa forma, eles representavam o Brasil, o povo brasileiro. Podem dizer também que o conceito de nação, como qualquer outro, é mera construção histórico-teórica; que neste país não há civilização suficiente para conceber o que é, de fato, isto; que a noção de “povo brasileiro” é ambígua, imprecisa e ideológica; concordarei com tudo. Mas prossigo afirmando: os jogadores contaram tanto com a nossa concessão que esqueceram de... jogar – no caso dos atores, seria o mesmo que deixar de encenar. Abriram as cortinas e tcham tcham tcham: silêncio. Todo mundo esperou, esperou. Nada. Deu até sono de tanto esperar o “espetáculo mágico”. As luzes piscavam, o tambor tocava, os fogos ascendiam, o povo gritava e... imobilização total. Por fim, vieram as semi-finais e cataplóft: desceram os panos e apagaram as luzes.
Bom, estando perdida entre as coxias da Copa com as cortinas mais do que cerradas (só se ouve Zidane e o Italiano se estapeando nos bastidores), fui interrompida por um grito do narrador: era um pênalti a favor da Ponte Preta defendido por Rogério Ceni cuja validade foi anulada, pois, afirmava o juiz, o goleiro havia se mexido além do limite...

Hasta la vista, beibe!

sábado, 22 de julho de 2006

O senhor não quer MESMO ler um jornal?
Para minha alegria, a Folha estava sendo distribuída de graça pela empresa de ônibus, eu já havia comprado o Estado na banca, e assim começa a minha saga

Ana Clara, de São Paulo
Na manhã de ontem, tudo o que eu mais queria era ler os jornais ouvindo uma rádio simpática enquanto ia em direção à São Paulo a bordo de um Cometa. Qual não foi minha surpresa quando um sujeito, com seus 50 anos, senta-se ao meu lado e inicia uma longa e maçante conversa.
Para discorrer sobre tudo que o pedante abordou, teria que ser tão pedante quanto ele; portanto, vou poupá-los de tal desconforto. Só apontarei as variáveis infindáveis (e como foi longo o trajeto) que obstaram toda minha infeliz iniciativa em querer ler um jornal, ouvir uma música, curtir a viagem, a paisagem e o sol de inverno.
Mal tínhamos saído da rodoviária, o senhor já iniciou um extenso discurso sobre o funcionamento das hierarquias militares. Acho que eu tenho feições revolucionárias ou cara de "comedora de criacinha", porque, é fato, sempre algum reacionário tenta convencer-me de coisas sobre as quais, durante a conversa, eu nem me posicionei ainda.
Não havíamos nem entrado na Anhanguera, ele afirmou contundemente ser a favor da ditadura. Some-se a esta afirmação, no mínimo, uma meia hora de tentativa de convencimento e persuasão de que os "militantes" estudantis, àquela época (e hoje mais ainda), eram meros ladrões de bancos.
E, acreditem, eram constatações e comparações tão absurdas, tão desconexas que não tinha nem como discutir. Não, não, não. Para o espanto de vocês (e, principalmente, meu), eu não debati fervorosamente, não quis fazê-lo entender coisas simples -- como se explica para uma criança --; apenas, claro, afiei minhas ironias. Algumas, ou a maioria delas, para minha tristeza, ele não entendia. Mas fui exercitando o instinto para encontrar contradições e desfazer sofismos, mesmo que só eu entendesse.
Num determinado momento, cansei e, como toda mulher deve saber, liguei meu mode OFF e deixei meus olhos em stand-by (presença BiaAbramística no texto). Contudo, o assunto enveredou por outros caminhos, logo, comecei a reexercitar-me em outros temas.
O sujeito afirmava ter encontrado a solução para todos os casos policiais polêmicos do Brasil. Desde Suzane Von Richtofen até o assassinato de Daniela Perez. Sim, até isto! Para Suzane foi a existência de uma conta na suíça e de Perez um líder do PCC. Juro! E, não obstante em sua veemência e certeza sobre o conhecimento da verdade dos acontecimentos, ainda me pediu sigilo absoluto quando soube que eu era jornalista: "Olha, não vai publicar isto, viu? Estou te contando, mas fica só entre a gente".
Não pensem vocês que não questionei sobre todos os pontos discutidos por ele, claro, esta é a graça da ironia. Porém, como disse, o senhor não percebia, pois estava tão embebecido de sua pseudo capacidade persuasiva para com uma jovem jornalista que não conseguia, como diria the master philosopher teacher, juntar lé com cré. Constatado isto, apenas passei a ouvir, relevar e interpretar seus argumentos considerando formação, idade, experiência, auto-afirmação e algumas técnicas psicanalísticas (um exercício que aprendi com um professor).
Quanto a mim, já descrente da possibilidade de ler meu jornal, muito menos, de ouvir minha música e, menos ainda, de admirar a paisagem, consegui divertir-me e dar muita risada com esta situação. Teve seu preço, óbvio: cheguei até a oferecer os dois jornais, mais de uma vez, para ele ficar quieto, mas não fui feliz.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Hoje acordei com espírito de super herói! Vamos salvar o país! Daqui por diante terei poderes para mudar tudo que quero! E, como todo super-herói que se preze, preciso de um slogan, um axioma, qualquer coisa! Pensei em pedir para o novo marqueteiro do Lula, mas ele deve estar muito ocupado com a campanha dos governos do PT. Afinal, haja retórica para tanto candidato. Pô, aêêê, sem quererrrr cheguei perrrrto do tema do meu sssshlogan... que tal “SuperV, a herança da esperança”? Ou seria “a esperança da herança”? Tanto faz, não tem muita diferença mesmo. Vou adotar a primeira para demonstrar que sou um homem forte, de decisão. Pronto, chamada feita.
Do que mais necessita um super-herói? Um inimigo, claro! Como adotar um inimigo? Já sei, todos aqueles que não colaboram para o progresso do país. Ué, eu não quero salvar o Brasil? Nada mais justo.
Estamos caminhando.
Agora preciso de umas palavras intensas, impactantes, de alta carga ideológica, como um discurso, para todos acreditarem que eu sou a salvação da nação (sinto que estou sucumbindo, mas, continuemos). Já sei: “... não falo de qualquer progresso, luto por um progresso que não pressupõe o domínio de uma classe sobre a outra... Luto por justiça social!”. Ótimo! Não vou falar mais do que isto, estas palavras devem servir para alguma coisa.
E os superpoderes? Ah, claro! Esta é fácil! Meus poderes são antídotos. Anti-tudo: anti-corrupção, anti-política econômica, anti-desemprego, anti-pobreza, anti-taxa de juros, anti-miséria, anti-FMI, anti-desigualdade, anti-roubo. Ué, não sobrou nada! Cadê o Brasil? Cadê o sistema? Cadê a política? Cadê o banco? Cadê o governo? Aloouuu?!?
Ok. Leitor, estamos só eu você, vou te contar o que aconteceu: o mercado ficou nervoso com os meus super-poderes, saiu correndo e levou tudo com ele. Sujeitinho covarde...
A conseqüência disto fica só entre a gente (não conta pra ninguém): vou usar meus “antis” em doses bem moderadas, mas beeem moderadas mesmo, como o aumento do salário mínimo e a queda na taxa de juros. Assim, o mercado não fica tão nervoso e some com tudo.
Ôche... entrei para o esquema! Como é difícil ser super-herói...

terça-feira, 18 de julho de 2006

D.icotomia A.nímica

Alma nenhuma mais amorosa ou terna do que a tua jamais existiu, alma nenhuma tão cheia de bondade, de compaixão, de tudo quanto é ternura e amor. Contudo, nenhuma alma tão solitária quanto a tua – não solitária, note-se, não em virtude de circunstâncias exteriores, mas de interiores. Explico-te: juntamente com tua grande ternura e bondade um elemento de espécie inteiramente contrária penetrou em teu caráter, um elemento de tristeza, de reconcentração, de amor-próprio, portanto, cujo efeito é duplo: desvirtuar e impedir o desenvolvimento e o pleno jogo interno daquelas outras qualidades, e de obstar, por afetar depressivamente a vontade, seu pleno jogo externo, sua manifestação. Deverei analisar isto, algum dia examinarei melhor, discriminarei, os elementos de teu caráter, pois minha curiosidade por todas as coisas, ligada à minha curiosidade por você mesmo e pelo teu próprio caráter, conduz a uma tentativa de compreensão de minha e tua personalidades.

Fernando Pessoa
[pronomes adaptados]

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Caderno de anotações

Quando assisto a um filme, dependendo do meu grau de interesse e da qualidade da obra, anoto passagens, cenas, diálogos, cores, conexões. Não há critério objetivo, apenas espero o filme despertar em mim um salto sobre o sofá e uma correria atrás de meu caderno. Além, é claro, da disposição em parar e voltar inúmeras vezes a mesma fala (é, pode dizer, coisa de gente maluca).
“Cronicamente Inviável”, de Sérgio Bianchi, é um exemplo. Eis algumas anotações:
PS: Entre aspas é personagem; sem elas, é narração.

Cronicamente inviável
Perfeitas formas de dominação autoritária

Trabalho:
Genialidade do projeto sulista:
O resto do Brasil se esforçou para escravizar negros e índios. Eles fizeram da forma mais antiga: arrancaram a vegetação nativa, mataram todos os índios e trouxeram seus próprios escravos. Aí botaram todo mundo pra trabalhar e pronto!
Se todo mundo gosta tanto de trabalhar, por que a gente não desiste da felicidade preguiçosa e importa de uma vez por todas a civilização européia? Só que daí vamos ter que trazer o que fizeram de esquecer por lá: os movimentos revolucionários, as guerrilhas, o terrorismo, a anarquia.

Felicidade
Genialidade do projeto baiano:
Enquanto o resto do mundo se esforça para dominar as massas seja pelo capitalismo, socialismo, a guerra, a revolução até o consumo, eles não. Eles só fazem o suficiente para gerar felicidade: mantém todo mundo pobre, coloca o som pra tocar e pronto!
Por que a gente não desiste de vez da bandeira de Ordem e Progresso e assume definitivamente a ficção barata da felicidade moribunda, podre, mijada. Essa imagem aprimorada da brasilidade enlatada que é boa pra todo mundo.

Liberdade de consumo

“Por que eu, que trabalho dezesseis horas por dia, tenho que ficar divagando sobre formas de dominação? Sobre quem domina quem?”

Carnaval (sobre a empregada doméstica desfilando na avenida)
A esperança de algum dia poder ser, de alguma forma, senhor faz com que seja suportável a dominação.
A que serve então, depois de adulta, se fantasiar de ouro e prata numa rua fechada, quase como um curral, ladeada por camarotes onde continuam a estar seus senhores? O que resta para Josilene são alguns segundos de glória o suficiente para conseguir se convencer de que a dominação é importante. Não porque ela gosta de ser dominada, mas por uma cumplicidade diante do prazer de dominar.


Se, mesmo lendo-as, vocês ainda se perguntam para quê eu as faço. Convido-lhes a pensar sobre os temas colocados e, creiam, passarão a entender-me um pouco mais. (Até mais do que eu mesma)
Boa semana!!

sexta-feira, 14 de julho de 2006

"Sabemos o que somos e não o que podemos ser" Shakespeare.

Nós sabemos o que os outros são? E, mais, o que eles podem ser?

O que pode vir a ser uma estrela-do-mar...?

segunda-feira, 10 de julho de 2006


“Os Deuses, que não perdem jamais uma oportunidade de ferir, de contrariar e de destruir a qualidade da vida humana, ficam totalmente desconcertados se, apesar de tudo, nos comportamos como grandes damas” Virginia Woolf.

Você deve estar se perguntando o que faz o desenho de um astronauta sobre uma legenda tão assaz auto-explicativa como esta.
Nem eu sei direito porque estas duas imagens aproximaram-se tanto em minha cabeça, mas cá estou para explicar o inconveniente. Eu poderia deixá-las aqui, ao léu, e esperar a sua boa vontade em entender, seja lá o que for, o significado disto. Como, para isso, teria que apostar demais na sua confiança em mim, preferi não arriscar; outra saída era largá-las aqui também e você ter a plena certeza de que, como diria uma amiga, eu “bato fora da caixinha”. Na prova dos nove, voilá moi!.
Creio que a relação entre as imagens se dá – primeira, superficial e claramente – entre a oposição masculino-feminino. Explico: o astronauta é um elemento essencialmente masculino (notem: não de masculinidade). É raro associarmos uma expedição à lua com mulheres na tripulação. Não nego a possibilidade, claro, para acalmar os instintos primitivos das feministas arrivistas mais engajadas, de que haja, atualmente, um grande contingente de missões com “damas”, mas isto não muda em nada o cerne significativo a que remete a figura do astronauta; no que tange à legenda, como já disse no início, ela fecha-se em si mesma. Para não ficar tão deslocada de seu contexto específico, acrescento que o trecho foi retirado de um livro que trata da ambição feminina no século XVIII.
Outro ponto de encontro está na proximidade entre o “lugar” do astronauta e o primeiro sujeito de Virginia Woolf. Para além de concepções particulares de onde ficam (ficariam) os Deuses, sua imagem está aliada a algo superior seja geográfica ou metafisicamente. De todo modo, tanto o astronauta quanto os Deuses não se encontram neste mundo. O astronauta, óbvio, literal, e os Deuses metaforicamente. Realço que a figura masculina (tanto em uma, quanto na outra imagem) não pertence a este mundo, ou seja, àquilo que me é inteligível ou que, pelo menos, eu saiba nomear e atribuir-lhe algum sentido notório. Estou certa de que quase nada neste mundo faz algum sentido “notório” para mim, mas, antes que me julguem pretensiosa, quando falo de mundo lembre-se que as restrições (inclusive dos meus pressupostos) ficam por conta da minha idade, formação, experiência, imaginação.
De volta às oposições, Woolf discorre sobre a exposição do homem – de modo geral – às intempéries e os sofrimentos que afetam a “qualidade da vida humana”. Enquanto o astronauta, apesar de estar num ambiente completamente desfavorável à sua mínima sobrevivência, encontra-se em absoluta proteção dentro de sua roupa espacial. Para quem esboçou um sorriso malicioso, reforço, desde já, que a suposta posição “superior” a quem os homens se encontram – nesta imagem lunática – é “superficial”, pois só é possível graças à artificialidade do vestuário, ou seja, de seus próprios meios.
Agora, alguns podem me dizer que vou forçar na interpretação, estou ciente disto; porém, em meu imaginário, há espaço para todo tipo de relação e nexos cujos fundamentos exporei aqui; se far-lhes-á sentido ou não, julguem por si próprio.
Consideremos os aspectos práticos: a falta de gravidade, diz a ciência, permite o homem flutuar e, desta forma, dispor-se de roupas infinitamente pesadas para não sair boiando pelo espaço. O resultado é a leveza dos movimentos (a despeito mesmo do vestuário brucutu), a impossibilidade de fazer gestos muito bruscos, uma certa “graciosidade” no andar, e, claro, aquela cena típica de um martelo e uma pena caírem com a mesma delicadeza. A perplexidade do homem – além de todos os aspectos científicos – fica por conta destes itens indicados acima (lembremo-nos da existência e o interesse por uma viagem à lua para sentir o efeito da falta de gravidade ou, até mesmo, simulador). Isto só é possível porque o ambiente permite, favorece e, de certo modo, “exige” este tipo de “comportamento” que, no caso do astronauta, é puramente físico. Virginia Woolf trabalha esta relação homem (no caso, mulher)-meio mais subjetivamente. Ao sugerir “nos comportamos como grandes damas”, ela não se refere somente aos critérios comportamentais físicos de uma “dama”, mas também ao seu ethos como tal. Ou seja, apesar do pesado fardo histórico de subestimação e difamação das mulheres ao longo da história, o “universo” feminino ainda causa muita perplexidade (e desconcerto) no meio masculino, semelhante à “curiosidade” que levaram tantos homens a procurarem a lua e entender suas próprias mulheres; ou então o “grau” de adaptação feminina em uma sociedade tão desfavorável (imaginem no século XVIII) como a nossa. E quando Woolf diz “apesar de tudo”, é apesar de tudo mesmo, pois mesmo estando carregadas e “vestidas” de séculos e séculos de maceração em todos os níveis, ainda temos charme e elegância para refletir, analisar, falar e sentir – tanto quanto ou mais que um homem – todas as coisas, seja um martelo ou uma pena caindo.
Não, não é um tratado feminista. Se você teve a proeza de chegar até aqui e concluiu isto, aconselho-te a voltar e reler mais pacientemente (allez-y, bon courage!). Claro que não disse tudo, não teria graça expor-me tanto assim, e "tudo" também não passa de quimera pretensão.
Para finalizar, vale lembrar que se trata de uma foto e uma legenda. Jornalisticamente falando, são duas coisas complementares, e uma não faz sentido sem a outra. Uma explica a outra, e esta última é explicada pela primeira. Uma legenda sem foto torna-se demasiada abstrata; e uma foto sem legenda um concreto vazio.

Considerações:
1- Mal coloquei minha roupa espacial, já tive que voltar da lua
2- O Lulu Santos foi comigo
3- Melhor: o Gabriel pensador
4- Por que a nossa seleção só tem monstrinho tréque-tréque?
5- Viva a Itália, e os jogadores da Itália, e o físico dos jogadores da Itália, e a beleza do físico dos jogadores da Itália, e a extrema beleza de tudo que compõe o físico dos jogadores da Itália (que isso!)
6- Morte aos donos de sebo que cobram 31 reais por um livro todo rabiscado e não aceitam pechincha
7- Felicidade aos que realmente leram e chegaram ao fim do post. (Ipi, ipi, urra!)
8- Escrevo muito, eu sei.
9- Welcome, você está diante de um blog de uma jornalista em crise.
10- Só para lembrá-los: aqui não tem editor.
11- Leiam o texto acima, está legal. Fiz com carinho.
12- Eu sei que vocês preferem ler em tópicos assim, é tentador, eu sei.
13- Mas tentem!
14- Meu final de semana de férias acabou.
15- Direito administrativo, urgh, aí vou eu!
16- Não! Não fiquei louca. Ainda. Faz parte do curso de relações internacionais.
17- Escrever assim, vicia.
18- Vou parar.
19- ....
20- Ai
21- Tchau
22- ....
23- .......

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Um presente de férias para vocês
(eu, Roberto, Cris)
Há certas músicas que deveriam ter letra, mas se as tivessem perderiam totalmente o encanto.
A música é ingrata com a escrita.
Não sei o que fazer.
...
O que me resta é indicá-la.
Temas de Amèlie Poulain.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Não, não resisti às futilidades que o brasileiro inventa. E como criatividade é um grande passo para a inteligência (não necessariamente, mas é), aqui está uma lista de filmes seleta com os nossos jogadores. Assim finalizo o clima de Copa do Mundo e já já troco este template de bolinhas fatídicas.
Enjoy yourselves!!

O ALVO - COM DIDA
OS INTOCÁVEIS - COM CAFÚ E ROBERTO CARLOS;
MISSÃO IMPOSSÍVEL - COM JUAN E LÚCIO;
PERDIDOS NO ESPAÇO - COM ROBERTO CARLOS;
BATER OU CORRER...EM BERLIM - COM ZÉ ROBERTO;
BONITINHO, MAS ORDINÁRIO - COM KAKÁ;
O ÚLTIMO IMPERADOR - COM ADRIANO;
FORREST GUMP, O CONTADOR DE HISTÓRIAS - COM RONALDINHO GAÚCHO;
MOBBIE DICK - COM RONALDO FENÔMENO;
ENTRANDO NUMA FRIA - COM JUNINHO PERNAMBUCANO
ESQUECERAM DE MIM - COM ROBINHO;
UM MORTO MUITO LOUCO - COM ZAGALLO;
A ESPERA DE UM MILAGRE - COM PARREIRA;
O PODEROSO CHEFÃO - COM RICARDO TEIXEIRA;
O ILUMINADO - COM ZIDANE

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia cortina.

E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
Uma que se chamava Arabela,
Outra que se chamou Carolina.

Mas a nossa profunda saudade
É Maria, Maria, Maria
Que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”

Cecília Meireles

terça-feira, 4 de julho de 2006

Filáucia de uma impostora
“Escrever é estar no extremo de si mesmo” João Cabral

Bem queria eu escolher os temas dos posts aleatoriamente, estender a este blog minha eterna e constante intenção – e por que não presunção –, como jornalista, de escrever o que interessa a você, leitor. No entanto, nada mais individualista e palco do narcisismo do que este próprio veículo. E, para ajudar nesta minha indignação e constatação, Barthes afirma contundentemente que a escrita revolucionária (século XVIII) foi a forma mais pura – sem juízo de valor – de escrita.

“A escrita revolucionária foi esse gesto enfático que era o único a poder continuar o cadafalso cotidiano. O que hoje parece inchaço não era na época mais do que o tamanho da realidade. Essa escrita, que tem todos os sinais da inflação, foi uma escrita exata: jamais linguagem foi mais inverossímil e menos impostora”.

Hoje entendo o professor Alcir Pécora ao relatar “o inconfessável: escrever não é preciso”. Atualmente, presenciamos a forma mais impostora de escrita em todos os lugares. “Não parece haver nada relevante sendo escrito, e esta é a mais provável razão desse poço, desse mar de coisa escrita”, diz o professor, alguém discorda?
Se a escrita revolucionária “não era apenas a forma moldada a partir do drama; era também a sua consciência” (Barthes), a escrita contemporânea – e incluo a minha, principalmente, a minha – não tem drama, tampouco consciência. Isto não significa, óbvio, que não vivemos num drama (se não for pior do que o da revolução) e que algumas pessoas não têm consciência. Concordemos, tudo que temos visto, salvo raríssimas exceções às quais eu não pertenço, expressa um mundo que não se encaixa com a realidade, aliás não expressa nada, pura falácia.
Um dia, confesso, tive a derradeira convicção de que a linguagem jornalística, por ser pretensiosamente imparcial e “meramente” descritiva, poderia aproximar-se de uma forma “pura”. Não riam. Eu tinha esta convicção. E não era de todo longe. As escritas políticas do século XVIII, em grande parte, eram publicadas em jornais. Hoje, jornalismo é outro departamento. Inferior, dizem alguns. Mas é outro, pena. Não resta nada, em lugar nenhum, tampouco na literatura. E quem arrisca ousar não está dentro das normas, logo está fora do jogo. E, quem arrisca e consegue um “lugar ao sol”, é ousadia fajuta. Sem este vezo católico de quem é a culpa: “a culpa não é de ninguém”, ou “são os capitalistas malvados”, “o sistema que corrompe” e outras coisas. Não tem espaço mesmo. Fechou, entenderam? Closed.
Não sejamos tão injustos. Há espaço sim, com certeza, para demonstrar e, cada vez mais, ratificar a superficialidade que vivemos. Se tomarmos “superficialidade” como a expressão máxima do ethos da nossa sociedade, temos a escrita que merecemos: tão vaga, superficial, interesseira e individualista quanto nós.
No mais, sem espaço e capacidade para gesticular enfaticamente, fechamo-nos em nossos computadores particulares e escrevemos a partir de uma ótica egoísta. Revolucionar? Bem comum? CidadãoS? Democracia? Credo! Coisa de revolucionário, eu, hein.
Atrás dos panos tudo é passível de exposição, mas aos holofotes não é permitida a sombra da luz que vem dos bastidores. Apaguemos a lucidez dos camarins, onde as máscaras ainda não estão colocadas. E preparemo-nos, atores deste espetáculo real, pois, de luzes ligadas, voz articulada, coração disparado, trajes apropriados, e hipocrisia encaixada, começo mais um texto.
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Para uma anime dicotômica:

Não por mim, pelo teu rosto
que encontrei nas mãos do vento.
Pensas que te está beijando,
e eu sei que te vai corroendo.

Não por mim, pelas palavras
que o teu lábio está dizendo.
Pensas que as fico escutando
e escuto é o teu pensamento.

Não por mim, mas por ti choro,
-- por teu pálido momento.
Vou-te dando a vida toda,
e assim mesmo vais morrendo...

Cecília Meireles

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Como diria Antonio, [Nerd Mode ON]