sábado, 16 de setembro de 2006

Nem uma coisa nem outra
Sim, acordei num sábado super disposta a fazer tudo. Na sexta-feira, depois da semana punk de trabalho, administrei todo o meu tempo e concordei comigo mesmo mesma: "você é a lady-manager-administration-time e vai cumprir todas as tuas tarefas amanhã".
Acordei, sentei à frente do computador e... não fiz absoltutamente nada do que precisava ser feito. A tarde já está no fim e eu fiz tudo, sim, tudo MENOS exatamente aquilo que era necessário. Não adiantei uma vírgula da tal pauta consolidada tão sonhada pelo meu colega de trabalho, não arrumei um fiozinho de cabelo do meu armário, não tirei um pó da casa, não pesquisei para o estudo sobre jornalismo Online, não dei continuidade à leitura de Mann, Eichmann ainda esbraveja desaforos em alemão pra mim e eu estou aqui.
e desligo o computador para fazer alguma outra coisa útil, sinto-me culpada por não estar com o traseiro colado na frente dele escrevendo as matérias da redação, pesquisando para o meu artigo e escrevendo um email de despedida para os meus professores de filosofia.
O que eu fiz até agora? Descobri vários sites interessantes sobre coisas inúteis, baixei um contigente infindável de músicas (sim, o Kazaa é carente. Você precisa ficar olhando e admirando seus downloads e rezando para que algum imbecil de quem sua música está sendo retirada não desconecte), fiquei decorando as letras de Vinícius e Chico Buarque (sim, um hábito adquirido na infância que, às vezes, é meio incontrolável. E torna-se quase um orgasmo quando consigo fazer paródias), vi um um filme-memória "Nós que aqui estamos, por vós esperamos" (acredito que a única coisa útil do dia), reli um estudo sobre a modernidade em Walter Benjamin (ok, a segunda única coisa útil) e fiz comida.
Ah! Sim! Ei, psiu, não sou tão inútil! Eu fiz comida! Um avanço culinário: macarrão com sardinha e maionese. E não era Miojo. I am feeling like the master chiefe of the year.
Para falar a verdade, eu estou irritada. Não sei o que quero fazer. Eu queria sair e praticar esporte, mas estou cansada de andar sozinha pelo Taquaral. Preciso fazer uma academia, mas está cara! E meu cartão já está negativo, minha conta corrente também e, às vezes, saio correndo das pessoas que fazem cara de "Visa ou Mastercard?" para mim.
Agora, olho para minha mesa: uma bagunça; na minha televisão: a cena pausada que mais gostei do filme "Nós que aqui estamos..."; na cozinha: a louça do almoço; no armário: monstros horrendos, elfos encantados, duendes encarnados e dragões raivosos me aguardam para o duelo do século "Preguiça-do-caceta-de-arrumar X eu-sou-uma-mulher-madura-que-sabe-organizar-as-próprias-coisas".
E assim a vida vai...
E, ah... também escrevi no blog...
Daqui a pouco, devo ir para um rega-bofe na casa do colega que tem o sonho da pauta consolidada...
Caro cidadão,

E se eu te amasse na quarta,
Não te amarei na quinta
Isto pode ser verdadeiro
Por que você reclama?
Te amei na quarta sim, e daí?

Edna Vicent Millay

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

A coisa aqui tá preta

Na verdade,

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
pra ver a banda passar
mas não gosto de cantar coisas de amor

A minha gente sofrida
não despediu-se da dor
eles só querem ver a banda passar
e cantar coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro morreu
O faroleiro que contava vantagem morreu
A namorada que contava as estrelas morreu
Mas seus filhos ainda preferem ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada se prostituiu
A rosa triste que vivia fechada se despediu
E a meninada toda se banalizou
Pra ver a banda passar
e cantar coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e se matou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha fúnebre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se alienou
Pra ver a banda passar e cantar coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era ruim se eternizou
Tudo piorou no seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
E eles cantarem coisas de amor

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Pelo que não é
Ele não é cruel. Ele até sente uma pontinha de prazer em ser chamado assim. Eu sei disto e por birra não o acho e sem birra também. Podem todos chamá-lo vil, cruel, insensível, impassível, afirmo, não é, não é, não é e não é o contrário. O ataque é simples: qualifique-o doce, meigo, amistoso, o mais fofo de todos os fofoletes reunidos num simpósio da fofolândia mundial. Viu? Ele deve estar revirando as entranhas agora. Ele é louco assim mesmo. Cruel não é. Nem nos seus maiores ataques de vileza que, aliás, são sensacionais. De sensação mesmo: ele sente, eu sinto, ela sente, você sente, mas não é.

domingo, 3 de setembro de 2006

Banho de água fria

Senhor delegado, eu só queria tomar banho dignamente. É certo que o fim da nossa relação não foi muito boa.
Tudo começou com a torneira, há tempos entrávamos em dissídio incessantemente. Eu tinha pressa, delegado, e ela insistia em abrir espaço para muita água – o que o deixava frio – ou pouca, o que impedia, também, de ter água para ele esquentar e, de fato, ele desligava. Mesmo assim, nada impedia que eu e ele tivéssemos um ótimo relacionamento durante todas as manhãs e, por vezes, no final da tarde. Sim, era freqüente. Quanto à torneira, resolvi como uma verdadeira dama que mora sozinha: peguei um alicate qualquer e apertei tudo que era possível. Ela não se rendeu totalmente à minha arbitrariedade, mas, com a força, tudo se resolve e o Estado era eu. Portanto, censurada de qualquer “voltinha” pela manipulação da água, a torneira passou a se render minimamente às minhas vontades e liberar água suficiente para ele esquentar. Depois, doutor, tudo voltou à mais perfeita harmonia.
Hoje de manhã, quando íamos fazer aquilo que todos fazem, ele não fez! Desligou. Olhei feio para a torneira, claro, culpa dela! Afinal, ela era a única que não se conformava com o nosso relacionamento perfeito. Peguei o alicate e nhum! apertei, mas ela não tinha afrouxado. Olhei para cima – sim, delegado, ele sempre fica em cima, isto é normal – e comecei a desconfiar. Olha, doutor, eu não falei nada, só pensei “acho que o problema é com ele”, aff, ele desistiu de vez. Deixou-me lá, delegado, sem nada, sem um pinguinho! Cheguei a pensar que o problema era conjuntural e apertei o interruptor... foi deprimente, o problema era realmente com ele. A hora passava... eu comecei a ficar com pressa e com frio. Conversei, dialoguei, tentei de todas as formas, todas as posições, de todos os jeitos, nada! Meu cabelo ensebado e aquela água fria. Tentei mais um pouco e não ouvi um gemido sequer... fui me desesperando. Peguei o primeiro objeto que vi pela frente e TÓFT soquei-lhe a embalagem de shampoo. Foi assim, delegado... que destruí meu chuveiro. Pôxa, eu só queria água quente.

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Da qualidade de gêneros do mundo bloguístico
"A idolatria que as mulheres têm pelo amor é, no fundo e originalmente, uma invenção da inteligência [...] Mas, tendo se habituado a essa superestimação do amor durante séculos, aconteceu que elas caíram na própria rede e esqueceram tal origem [...]" Nietzsche

O texto bloguístico masculino é muito mais interessante que o feminino. Não por uma mera questão de interesse pelo sexo oposto, basta uma rápida navegada e verá uma diferença latente entre ambos. Antes que eu receba milhares de mensagens indicando blogs femininos de qualidade e masculinos de muito mau gosto, advirto que estou me referindo aos blogs onde os homens tratam de mulheres, e mulheres tratam de homens, e ambos tratam do tal amor.
Isto eu hei de defender até o fim. Enquanto as mulheres se deleitam em postar textos e mais textos sobre o grande amor de suas vidas, chorando, lamentando-se, colocando poemas, músicas, cantigas etc etc; os homens escrevem textos maravilhosos e, por mais apaixonados ou frustrados que estejam, não entregam o coração de bandeja esbaldando-se em palavrórios melosos. Ok, há as malditas (ou melhor, benditas) exceções, mas nada que desafie a regra. Vejam, eu estou falando das pessoas que possuem algum tino literário e cerebral. Lixo é lixo, não tem conversa.
Machismo? Não. Cons-ta-ta-ção apenas.