sábado, 12 de maio de 2007

Caju

O pacote de momentos destinado à ininterrupta monotonia da rotina pode ser dissolvido e ingerido num gole de suco de caju. Um líquido amarelo, meio cor de burro quando empaca (se fugisse ainda teria algum quê de dinamismo), gosto de água com açúcar e duas medidas de engodo. Um secreto fingir que tomamos algo prazeroso e no fundo só água, açúcar, rotina e caju. A bílis de minha raiva, outrora um ode à fuga da mesmice, torna-se aquele amarelento embaçado, fruto do tempo passado que acalma os ânimos e nos fazem voltar ao... mesmo. Caju.
Mesmo, mesmo, sempre o mesmo. Não! Basta!
Eu quero beber o veneno de minha raiva; o licor da minha sedução; o ácido dos meus pensamentos; a cicuta do meu ego; a água dos meus prazeres. O leite do teu deleite; o vinho de teus olhos; o soro dos teus defeitos; e até o óleo de fígado de bacalhau da tua forma de amar, mas não aceito o mesmo. Esta mistura fajuta de prazeres comprados com dissolução certa e modo de preparo; servida em copos infinitamente iguais para pessoas esquizofrenicamente iguais num comportamento enojadamente normal.
Façamos a nossa festa! Destruamos os copos de mesmice e toda a sala de jantar!

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