Passei o fim de semana em Lorena. Não visitei muita gente, mas não existe nada melhor que rever os amigos depois de tanto tempo. Trata-se do mesmo princípio de satisfação de beber água quando estamos com sede; comer quando estamos com fome; dormir quando estamos com sono; ou seja, coisas que parecem banais, mas são essenciais e, quando damos falta, passa a ganhar prioridade.
Não importa a quantidade, mas a qualidade (digo isto porque há uns três, quatro anos eu não seguia impreterivelmente esta lógica). E me sinto privilegiada, pois, no meu caso, as duas coisas andam praticamente juntas. Quando digo quantidade serve tanto para o número de pessoas, quanto para o tanto de tempo dispensado ao lado delas.
Viagem
(e entenda um pouco do Brasil, ou dos brasileiros, ou de uma brasileira, ou de tudo, ou de nada)
Nota: minha poltrona era a quatro, ao lado do motorista.
Lorena
Quase perco.
Guará
Rodoviária lotada. Não tinha lugar para estacionar.
Dez minutos. Quinze. Vinte.
-- Motorista, ali!
-- Obrigado
Tsccchhhhiiiiii. Tsssccchhiii.
Uma caminhonete particular estacionada exatamente no lugar do ônibus: dentro da plataforma.
As pessoas embarcam no meio do pátio.
Aparecida
Esterco por toda a única e principal avenida cujo acesso era para a rodoviária. Descobre-se: Congada. Tudo parado. Cavalo, criança, moto, pipoqueiro, carroça, camelô e quatro metros de largura têm a rua.
-- Moço, o senhor é daqui?
-- Sim.
-- Se eu virar aqui, chegamos na rodoviária?
-- Não sei.
-- Alguém sabe? Moça, moço, por favor.
-- Não sei, não, dona.
-- Motorista, vira. Depois a gente vê.
Quarenta minutos: três quarteirões. Uma carriola na rua. Quatro ônibus manobram, ao mesmo tempo, para desviar. Rodoviária. Transtorno. Todos querem entrar. Ninguém quer esperar o próximo.
Dutra
Motorista quase Kill Bill e os passageiros. Meu ônibus alcança o outro que saiu uma hora depois da gente, do mesmo lugar.
Taubaté
Mais pessoas. Pouco lugar.
-- Não tem espaço pra todo mundo.
-- Como assim, motorista?
-- Têm que esperar o outro.
-- Mas estamos aqui há quase uma hora.
-- Atrasamos em Aparecida. O outro está vindo. Agora não sei quem pegar: quem é das quatro ou das quatro e meia.
Discussão. Vinte minutos.
-- Dá licença, gente. Motorista, o senhor tem que embarcar quem é das quatro. Se você saiu antes do outro em Lorena, provavelmente, seus passageiros são de quem é mais cedo. Óbvio, não?!
-- Como assim? Fiquei em dúvida. Não estou certo. E se eu coloco e dá problema?
-- Não vai dar. As passagens foram vendidas por computador, olha. E, geralmente, não ocorre ter duas passagens para a mesma poltrona. Se o senhor saiu mais cedo, é claro que você vai embarcar quem é do horário anterior, não?!
-- É... você tem razão. Hey, gente!!! Aqui só aceito passagem para às quatro!! Quatro e meia é no outro!!
Meia hora.
Duas mulheres:
-- Motorista, temos o mesmo número de poltrona.
-- Como assim?
-- As duas são onze.
-- Ai, meu Deus. Comissário, por favor.
-- Pois, não.
-- Elas têm um problema no número da poltrona.
-- Deixa eu ver...Este é o número da plataforma, sua poltrona é três, aqui na frente.
-- Ai, é mesmo! Ai, motorista, desculpa. [...] Oi, moça, posso sentar? Ai que vergonha, confundi tudo.
-- Claro. Fica calma, acontece. Já fiz isto.
-- Você é daqui?...
Dutra-Dom Pedro
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Campinas
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Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
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Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
-- Você vai gostar de Campinas. Quando precisar, pode ficar em casa.
-- Obrigada! Qual seu orkut?
:\\\\
Humpf. Um dia ainda acabo com isto.
Rodoviária
Fila enorme: sai da estação e ocupa todo o quarteirão (da Barão de Itapura ou, pelo menos, o que seria continuação dela).
Um ser atrás de mim:
-- Meu Deus, que fila é essa??
-- Olha, querido, não sei. Só espero que não seja do banheiro. Estou apertadíssima.
-- Hahahah. Acho que está vendendo ingresso pra algum super show que não estou sabendo.
-- Hahahah. Creio que não. Campinas não tem super shows e venda de ingresso na rodoviária, na volta de um feriado, só se for pegadinha.
-- Heheheh, verdade. Será que é fila do guichê pra São Paulo?
-- Acho que não. SP tem ônibus de cinco em cinco minutos.
Desembarque.
Sim, a fila era para comprar passagem rumo à capital. Fiquei abismada.
Se Campinas estava assim, imagina São Paulo.
Tsc, tsc...
C'est Brasil.
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