sábado, 7 de abril de 2007

"NÓS NÃO VAMOS TRANSFORMAR A SOCIEDADE"
mais uma do capítulo deixa-tudo-como-está-porque-sempre-foi-assim e o segundo volume do, já batido, eu-tenho-uma-dúvida.

Esta semana fui a uma palestra sobre crítica de cinema e, depois de uma colocação sobre a irrelevância de uma certa discussão que tinha se levantado (sou chatonilda mesmo), depois de toda a confusão causada e depois de um certo "desconforto", a frase final foi dita, como sempre, pelo palestrante (no sentido de que ele se posicionou como "autoridade" no assunto): "nós não vamos transformar a sociedade". Por um ímpeto civilizatório ou repressivo social, não prolonguei a discussão, não me posicionei, enfim, calei-me (já tinha causado balbúrdia suficiente). "Nós", ele se referia ao cinema, "não vamos" significava não-cobrem-isto-da-sétima-arte, "transformar" não existia no imaginário do falante e "sociedade" era aquele círculo de meia dúzia de pessoas, brancas, magras, ricas e contentes.
Alguns dos elementos da discussão eram até que ponto um filme é revolucionário; se isto é mera ilusão esquerdista; que o cinema brasileiro, só porque é financiado pelo Estado, sente-se na obrigação de ter alguma roupagem - nem que seja vagabunda - de discussão social; que não se pode cobrar isto (sempre) do cinema e mais alguns outros temas, um pouco mais enlatados e batidos, discutidos em rodas deste tipo.
Quando fui embora, a tal "não-viabilidade" (ou não-querência?) de transformação ficou na minha cabeça como um dedinho de criança remelenta que fica pedindo pra comprar um doce. Que as coisas fiquem claras: eles entendiam transformação e revolução como a mesma coisa e debatiam neste nível; todos concordaram com o palestrante.
Que escancarar nossa situação social, desfiar as lutas de poder entre classes e todas estas coisas "politicamente corretas para um filme", até agora, não gerou nenhuma manifestação político-social significativa é fato. Que uma revolução da sociedade por meio, apenas, de filmes pode ser uma utopia, é válido. Mas será que isto não acontece porque, justamente, os filmes são feitos para as pessoas que querem mantê-la tal como está? A observação (uma das que eu mais gostei, diga-se de passagem) do próprio palestrante ajuda a responder. Ele afirma que, na maioria das obras cinematográficas de "denúncia social", há um personagem-Cicerone, geralmente, é o protagonista, que introduz e encaminha o cinespectador pela realidade perversa-bandida-injusta do país. Um bom indício para começar a se pensar sobre isto, não? Pois é, não foi o que aconteceu.
Bom, num plano mais concreto, a dúvida que mais me assolou foi a seguinte: supondo que a revolução (como eles entendem) não seja possível por meio dos filmes, a "reforma no modo de pensar" não se pode começar pelas películas? Digo, não só por elas, mas por meio das obras de arte como um todo? Aliás, a obra de arte não é uma manifestação peculiar do "modo de pensar"? Uma mudança (não sei encontrar a palavra exata) radical no cinema não pode catalisar as pessoas a pensarem de outra forma ou, simplesmente, a pensarem? Como Brecht, no teatro, revelar alguns mecanismos, enfim, despertar? Isto não seria um passo para a tal "transformação" da sociedade que, segundo o palestrante, não se deve cobrar do cinema porque ele não é capaz? Não tenho a pretensão que o cinema mude o mundo, tampouco quero impor uma homogeneização das produções com favela, bandido, pobre, classe média e todas as mazelas sociais estampadas, muito menos afirmo que os filmes de "transformação" tenham que seguir uma cartilha de temas. Que catso!! Oi? Ei! Estão todos dormindo com a tevê ligada.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ainda acredito que a arte não muda o mundo, pessoas mudam o mundo. A arte muda as pessoas.

Anônimo disse...

Acredito que a película pode sim ter como função primaria ou secundária a mudança social, a propagação da idealização de um mundo melhor, porém creio que este movimento deve acontecer através de todos os meios de comunicação...

Ana Clara disse...

Bruno,
e quem muda os artistas?
Ou eles não precisam ser mudados?
bjos

Ana Clara disse...

Gaspar,
a situação é tão crítica que, se isto se espalhar por todos os meios de comunicação, o povo cansa e cai na banalidade. Não deveria ser assim, mas é. Estou às voltas com estas questões ultimamente... ainda volto a falar sobre isto pelos posts da vida.
Beijão