quarta-feira, 28 de junho de 2006

Eles me pegaram!
Fui atropelada pela propaganda

Andava eu toda faceira pela Unicamp, depois de três horas mergulhadas em Getúlio Vargas, um frio amigável, o farfalhar das árvores, a calmaria do IFCH (fim de semestre), um bicho-grilo sorridente e solitário pergunta se vai ter festa "Não sei", o passarinho canta, o cachorrinho passa, meus pensamentos devaneiam não me lembro por onde, e uma mulher exasperada e descabelada atravessa a rua e pergunta: "Ei, você! Quer brinde?". Mal tive tempo de voltar do minha viagem mental, dos passarinhos, do cachorro, do frio, da árvore, ela já estava com meus dois cartões de crédito e o meu CPF, entulhando-me as duas mãos de tranqueiras. Tudo assim: e puf. Você não paga isto, não paga aquilo, não tem taxa daquilo outro, essa história de não pagar estava interessante. E ganha duas revistas, uma bolsa, escolhe um livro, tem este, aquele, sai mais este, tudo rápido. Quando dei por mim, estavam passando meu cartão de crédito. Sim, no meio da rua. Como? Não me pergunte. A diaba da maquininha estava lá. Pensei: "Não vão conseguir! Hahahha! Meu gerente quase me matou semana passada porque o limite tinha estou...".
-- Passou!
-- Como assim, passou?
-- Ueh, passando
-- No crédito?
-- É. Assina aqui.
-- Não era pra passar, meu limite...
-- Pois é, olha que sorte, não! Se não você não ia ganhar a bolsa, a revista e...
Não ouvi mais nada. A menina agradeceu e foi embora. Nem retribui a despedida, fiquei inerte. De repente, tudo sumiu. A menina, a supervisora, o ajudante, a revista, as bolsas, as gentilezas. Não tinha mais ninguém. O frio voltou aos poucos, as árvores anunciavam o vento forte e eu continuei andando. Tentei justificar: uma assinatura eu dou para a minha mãe, a outra, bem, a outra também.
Bando de filhos da puta! Vocês me pegaram! Mas não pensem vocês que eu não vou resistir! Era porque eu não estava em casa, liguem-me por telemarketing e vão ver: não aceito nada e vão se fuder! Não quero porra de revista nenhuma. Assim não vale: no meio da rua, num dia tão lindo, num lugar tão agradável, depois de estudar, em meio a uma série de pensamentos aconchegantes, atropelar a gente com folders, revistas, bolsas, quinquilharias e conversa furada.
Saí com uma sensação de derrota e um sorriso maroto: aqui dentro, vocês não entram! Podem até levar meu dinheiro, meu cpf, meu endereço, mas meus pensamentos estão aqui e eu sei o que vocês fizeram em todos os séculos passados.
E, deixa estar, na próxima vocês não me pegam. Vou quebrar os cartões de crédito na sua frente, queimar todos os brindes, meter porrada no carro-propaganda e mandar todas as menininhas falantes para a puta que o pariu.
É assim. Aqui dentro, não!

2 comentários:

Anônimo disse...

Você tá bem radical ultimamente :)
Desagradável o que aconteceu com você, mais uma pessoa seduzida pelo marketing. Mas se ele existe, é pra isso né? Atrair pessoas. Penso se quando tiver dinheiro/cartão de crédito pra mim alguém não vai fazer isso comigo... será? Será que conseguirão? Dúvida idiota.
De qualquer maneira, faz o favor de não comprar mais nada por impulso, sempre deixa pra depois, aí você pensa mais :p
Bjo.

Ana Clara disse...

E não foi por impulso (meu). Eles me impulsionaram (consideração inútil já que, no final, dá tudo no mesmo). Vou seguir seu conselho, obrigada. Aliás, vou seguir o meu também: armar o maior barraco e mandar todo mundo catar coquinho na descida.
Abraços