quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Dois hambúrgueres, sem alface, nem queijo, nem molho especial, muito menos cebola e picles num pão com gergelim
Detesto quem repete, quem recorta uma frase do texto e diz “adorei esta frase”. Sim, acabei de fazer o mesmo e eu posso me detestar por isso, não? Detesto quem não sabe o que dizer e se agarra às pílulas de auto-ajuda para sobreviver. Sim, eu faço isto, de vez em quando, e daí? Continuo não gostando das pessoas que fazem isto, como não gosto do meu eu desesperado quando não vejo mais o brilho dos olhos dele em mim.
Como defesa, eu analiso, disseco, destrincho, reviro e biopsio todas as entranhas dele. Nenhuma vírgula escapa-me, nenhuma metonímia, nenhuma metáfora, nada. Tudo nele está escrito em cada escolha que ele faz. Eu vejo até a reticência perdida na retina escura. Defino cada ponto final com qualquer hesitação e enxergo a conclusão do capítulo só de vê-lo dormir. Para cada canto que ele olha há um parágrafo, para cada gesto uma síntaxe e para cada silêncio uma obra enciclopédica de 16 volumes.
Daí aparece a mãe Dinah, retira uma frase de todos os meus escritos e acredita ter encontrado a solução. Não é bem assim, dona bruxa sabichona, seus astros não entendem nada de gramática. Eles não vêem que minha oração subordinada é dirigida aos céus e se perde na coordenação precisa das estrelas. Para entender meus sentimentos, é preciso encontrar o amor espremido em duas fatias grossas de ódio com intoleráveis advérbios, adjuntos, adjetivos, vocativos e todas as perfumarias sintáticas enroladas num canudinho e fincadas – de fora a fora – neste sanduíche indigesto com uma cereja-romance na ponta.

7 comentários:

Feliz disse...

querida, acho que você está precisando trepar um pouco. faz isso, faz? beijinhos...

Anônimo disse...

Caro, Tiago, só não darei a resposta que mereces porque cairia na própria armadilha da sua frivolidade.
De resto, não se precipite e nem perca seu tempo fazendo conjecturas sexuais, há muito mais do que você pensa e muito menos do que você imagina no reino de tantos Áses, mentiras e cores profundas.
Besitos pra ti

Anônimo disse...

Ana Clara
estou te observando (pela internet) há pouco tempo e já admiro sua coragem de se expor. Muito do que você diz faz parte de minhas inquietações mas não sou tão boa para me mostrar ao mundo como vc. De qualque forma tenho um "filtro de informações" que te recomendo.
Opiniões onde os homens se colocam ao centro de todo e qualquer pensamento feminino não se levam em conta. Se sexo resolvesse tudo não haveriam tantos homicídios por conta dele...
Boa sorte no seu reino

Thiago Borges disse...

Clara

Concordo com esse(a) "Anônimo(a)"...
"Sei" do seu sentimento... está muito além da simples linguagem de "olhos de ver gente e coisa"..e coisa diferente sem nome...

Anônimo disse...

Obrigada pela colocação, cara anônima. Comentários pertinentes e audaciosos são sempre bem-vindos. Por falar nisto, seja bem-vinda :)
(não escondo uma certa inquietação em saber tua identidade)

PS: adotei o feminino pela sua frase "não sou tão boa". Se não for o caso, revele ;)

Beijos

Anônimo disse...

Aloha, Thiago
Bom saber que posso compartilhar visões mais extensas que o horizonte das pessoas e das coisas... e das coisas diferentes sem nome ;)
Beijos

Anônimo disse...

Uau, a grosseria de alguns membros do meu gênero envergonha-me. E assim percebo que, enquanto as mulheres avançam, nós retrocedemos.
Abraços