Terminei de ler "memória de minhas putas tristes", do García Marquez. Se o fosse escrever, intitularia "memórias minhas puta tristes" e deixaria um traço do jargão deste meu século perdido e condenado. Um bom romance, daqueles que te incomodam na poltrona e te fazem revirar em todas as posições para encontrar um lugar confortável. Impossível, o desconforto está nos olhos, ou melhor, nas páginas quandos são encontradas por eles.
O autor trata do amor "e por mais que lidemos com esse sentimento como se fosse um paletó dois números acima do nosso, apenas ele e tão-somente ele, o amor, nos faz humanos..." escreve o "orelhista".
Incluo-me entre as pessoas que não conseguem vestir este paletó, mas, no meu caso, eu o acho pequeno. Dois números abaixo. De modo que todas as vezes que tento vestí-lo deformo-o. Um desastre: pula botão, esgarça costura, rasga tecido ou não passa nem pela cabeça. Se entra por um braço, não alcança o outro e, se com muito custo, consegue, fico presa entre meus próprios ombros. Haja esforço para tamanha peça, há quem diga (ou melhor, jogue-me na cara) que nunca vou vestí-lo enquanto estiver com o casaco grosso e espinhudo do meu orgulho. Ora essa, mal sabem eles que este casaco eu só visto em ocasiões especiais. E se, mesmo assim, com muita paciência e dedicação, consigo encaixar todos os meus membros neste vestuário tão esquisito, sinto-me nua como Ana Maria ao olhar-se no espelho, depois de entrar na cabine.
12 comentários:
Se quiser, posso fazer um paletó sob medida pra você. Só pra você.
O amor verdadeiro é nu.
Tenho minhas dúvidas, anônimo. Até a "verdade" é uma roupa a ser vestida. Nu mesmo é o sexo (e, mesmo assim, com algumas pecinhas de pudor).
Obrigada pelo comentário
Beijos
Eu não tenho dúvidas que o amor verdadeiro é nu. Acredite. Quem ama não precisa de pudores, máscaras, mentiras, nada disso. O amor verdadeiro é nu. E se não for nu, é amor inventado.
O amor ideal pode até ser assim, mas estou longe de acreditar que alguma coisa pode ser totalmente "verdade" ou "verdadeira".
No mais, amor inventado não é tão vestido assim. Tem gente que adora. Pelo menos, deve cair bem.
Você acredita que esse amor cru e simples pode existir, e pra sempre? um paletó q veste como sua pele... tentador.
Mas o que fazer quando o corpo mudar de foma? poderia o amor acompanhar? Não cansaria dele como faz com suas ropas mais antigas? o desprezaria pelo novo?
Será que é bom mesmo ter um paletó ou um amor?
Desculpem, mas tive que entrar na discussão.
Não despreze o trabalho do alfaiate, anônimo. Para se fazer realizar o amor (eternamente, como desejas) é necessário, sim, fazer concessões, ser tolerantes e otras cositas más que se incluem na "roupagem social". Se não, não dura um mês... nem a paixão mais arrebatadora nem o amor mais puro (ou "verdadeiro" como gosta de chamar). Por outro lado, dona Ana Clara, amores inventados costumam enjoar depressa, como a roupa xadrez da moda.
Abraços
primeiro: o terceiro "anônimo" não é o mesmo que o segundo e o primeiro, que sou eu, o verdadeiro.
segundo: o amor é brega, não segue tendências de moda, muito menos roupagem social. o amor é brega e nu. e se o amor usasse alguma roupa, seria uma roupa térmica, dessas que refrescam no verão e esquentam no inverno, e totalmente anatômica. o amor seria uma roupa que deixa exposta todas as belezas e também as imperfeições e que, exatamente por isso, veste perfeitamente bem.
Anônima Clara...isso virou uma S.A.
Estão duelando com palavras pelo seu paletó (com você dentro ou fora) ou seria pelo seu "amor"...
Bjs
Pelo meu ofício, sinto-me no direito de manifestar minha opinião. Acerca das perguntas feitas pelo anônimo-que-não-é-o-verdadeiro, acho que você não entendeu nada. O amor, em si, é uma roupa a ser vestida e cada detalhe deve ser cuidado com muito carinho. Não é questão de se ter um paletó ou um amor... não é um OU outro. São ambos. Recebo várias encomendas por dia de pessoas que desejam conquistar (o que elas acham ser) seu amor nos mínimos detalhes, principalmente, nos botões. Quanto à "mudança da forma do corpo", você também não entendeu que o paletó é subjetivo... ai, ai, ai, viu! Ou, como colocou o anônimo-verdadeiro, anatômico e flexível.
Eita, agora virou um samba do crioulo doido (não sei mais nem se estão falando comigo ou entre si).
Tenho duas opções:
1) Criar uma corporação de ofício, já que até S/A eu tenho, um alfaiate e um pregador de botões.
2) Convidar a todos para tomar umas em casa e terminarmos (ou prolongarmos) esta discussão como quatro (cinco? seis?) pessoas civilizadas e... hum... ébrias, lucidamente ébrias.
Beijos a todos
Esta certo, todos voces discutem essa relação amor/nudismo, enquanto eu me preocupo em agradar a Clarinha.
bjos
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