Caderno de anotações
Quando assisto a um filme, dependendo do meu grau de interesse e da qualidade da obra, anoto passagens, cenas, diálogos, cores, conexões. Não há critério objetivo, apenas espero o filme despertar em mim um salto sobre o sofá e uma correria atrás de meu caderno. Além, é claro, da disposição em parar e voltar inúmeras vezes a mesma fala (é, pode dizer, coisa de gente maluca).
“Cronicamente Inviável”, de Sérgio Bianchi, é um exemplo. Eis algumas anotações:
PS: Entre aspas é personagem; sem elas, é narração.
Cronicamente inviável
Perfeitas formas de dominação autoritária
Trabalho:
Genialidade do projeto sulista:
O resto do Brasil se esforçou para escravizar negros e índios. Eles fizeram da forma mais antiga: arrancaram a vegetação nativa, mataram todos os índios e trouxeram seus próprios escravos. Aí botaram todo mundo pra trabalhar e pronto!
Se todo mundo gosta tanto de trabalhar, por que a gente não desiste da felicidade preguiçosa e importa de uma vez por todas a civilização européia? Só que daí vamos ter que trazer o que fizeram de esquecer por lá: os movimentos revolucionários, as guerrilhas, o terrorismo, a anarquia.
Felicidade
Genialidade do projeto baiano:
Enquanto o resto do mundo se esforça para dominar as massas seja pelo capitalismo, socialismo, a guerra, a revolução até o consumo, eles não. Eles só fazem o suficiente para gerar felicidade: mantém todo mundo pobre, coloca o som pra tocar e pronto!
Por que a gente não desiste de vez da bandeira de Ordem e Progresso e assume definitivamente a ficção barata da felicidade moribunda, podre, mijada. Essa imagem aprimorada da brasilidade enlatada que é boa pra todo mundo.
Liberdade de consumo
“Por que eu, que trabalho dezesseis horas por dia, tenho que ficar divagando sobre formas de dominação? Sobre quem domina quem?”
Carnaval (sobre a empregada doméstica desfilando na avenida)
A esperança de algum dia poder ser, de alguma forma, senhor faz com que seja suportável a dominação.
A que serve então, depois de adulta, se fantasiar de ouro e prata numa rua fechada, quase como um curral, ladeada por camarotes onde continuam a estar seus senhores? O que resta para Josilene são alguns segundos de glória o suficiente para conseguir se convencer de que a dominação é importante. Não porque ela gosta de ser dominada, mas por uma cumplicidade diante do prazer de dominar.
Se, mesmo lendo-as, vocês ainda se perguntam para quê eu as faço. Convido-lhes a pensar sobre os temas colocados e, creiam, passarão a entender-me um pouco mais. (Até mais do que eu mesma)
Boa semana!!
Um comentário:
Por isso que eu tenho medo de ver filme contigo... :O
hehehehe
Bj
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