quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Guerreiros fazem zigue-zigue-zá

Não sou escrava de Jó, nem jogava o Caxangá, mas tenho uma séria dificuldade em decidir o que tirar, o que pôr e o que deixar ficar. No processo de multiplicação, abstenção, aquisição, distribuição e subtração dos problemas e loucuras diários, sempre resta alguma peça no lugar errado – como aquela mão desajeitada que não sabe acompanhar o jogo e a música ao mesmo tempo e acaba enrolando todas as peças da brincadeira.
Há certos dias – poucos, mas há –, em que as loucuras, na correria insana da rotina, acabam tomando seu rumo e combinando-se, umas às outras, perfeitamente. Uma sinfonia tão bem regida que elas passam despercebidas. Por incrível que pareça, os problemas não se atrapalham em meio ao furor cotidiano e, ao fim do dia, eu me olho no espelho, dou uma piscadinha, desenho um “Z” no vapor acumulado e esboço um singelo sorriso.
Porém, como não dá para ensinar todos os meus neurônios e intuições a jogarem ao mesmo tempo, com a mesma rapidez e habilidade, as peças acabam embaralhando-se todas mais freqüentemente. Para impedir um colapso geral do jogo, escondo algumas loucuras; cochicho uma correção à razão; deixo algum problema estagnado para a próxima rodada; dou um jeito. Afinal, nem sempre, como na brincadeira tradicional, eu tenho uma peça por passagem. A vida é um pouquinho mais complexa.
O imbróglio se dá mesmo no final: depois de todas as artimanhas para articular e arranjar as loucuras e problemas e combiná-los com a música, quando tudo parece estar definido para o fim do jogo, os malfadados guerreiros não me deixam decidir onde colocar as peças. É um tal de peça que vai, mas volta; parece que fica, mas vai; loucura indo, razão voltando, problema multiplicando e tudo vira uma imensa lambança.
Tem guerreiro fazendo zigue-zigue-zá na minha cabeça.

5 comentários:

Anônimo disse...

De volta à infância, acompanhei cada saga cotidiana ao som da cantiga. Quanto ao zig-zig-zá... as vias tortuosas, geralmente, são mais encantadoras...
Bjos

Anônimo disse...

Ei, vou ter que travar um duelo?

Ana Clara disse...

Marvelita, tens razão. Encanto é o que não falta.

Ana Clara disse...

Jpf, =P

Anônimo disse...

Que confusão é a vida, não é? O mais incrível é que, de uma forma ou de outra, as peças sempre se combinam. Quando olho para trás e vejo o quanto aprendi sinto tanta alegria que a vontade de continuar aprendendo torna-se imensa!

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