domingo, 3 de setembro de 2006

Banho de água fria

Senhor delegado, eu só queria tomar banho dignamente. É certo que o fim da nossa relação não foi muito boa.
Tudo começou com a torneira, há tempos entrávamos em dissídio incessantemente. Eu tinha pressa, delegado, e ela insistia em abrir espaço para muita água – o que o deixava frio – ou pouca, o que impedia, também, de ter água para ele esquentar e, de fato, ele desligava. Mesmo assim, nada impedia que eu e ele tivéssemos um ótimo relacionamento durante todas as manhãs e, por vezes, no final da tarde. Sim, era freqüente. Quanto à torneira, resolvi como uma verdadeira dama que mora sozinha: peguei um alicate qualquer e apertei tudo que era possível. Ela não se rendeu totalmente à minha arbitrariedade, mas, com a força, tudo se resolve e o Estado era eu. Portanto, censurada de qualquer “voltinha” pela manipulação da água, a torneira passou a se render minimamente às minhas vontades e liberar água suficiente para ele esquentar. Depois, doutor, tudo voltou à mais perfeita harmonia.
Hoje de manhã, quando íamos fazer aquilo que todos fazem, ele não fez! Desligou. Olhei feio para a torneira, claro, culpa dela! Afinal, ela era a única que não se conformava com o nosso relacionamento perfeito. Peguei o alicate e nhum! apertei, mas ela não tinha afrouxado. Olhei para cima – sim, delegado, ele sempre fica em cima, isto é normal – e comecei a desconfiar. Olha, doutor, eu não falei nada, só pensei “acho que o problema é com ele”, aff, ele desistiu de vez. Deixou-me lá, delegado, sem nada, sem um pinguinho! Cheguei a pensar que o problema era conjuntural e apertei o interruptor... foi deprimente, o problema era realmente com ele. A hora passava... eu comecei a ficar com pressa e com frio. Conversei, dialoguei, tentei de todas as formas, todas as posições, de todos os jeitos, nada! Meu cabelo ensebado e aquela água fria. Tentei mais um pouco e não ouvi um gemido sequer... fui me desesperando. Peguei o primeiro objeto que vi pela frente e TÓFT soquei-lhe a embalagem de shampoo. Foi assim, delegado... que destruí meu chuveiro. Pôxa, eu só queria água quente.

3 comentários:

Anônimo disse...

Haha, gostei da historinha xD
Sem muito a comentar :p
Ah, e eu falei que cumpro minhas promessas hehe
Beijo.

Anônimo disse...

É, chuveiros são seres complicados de se lidar. Exigem muita paciência e paz de espírito.

Ana Clara disse...

Antonio: missão cumprida com honrarias. Acabas de ganhar uma estrelinha da tia Maricota ;)
Obrigada! Abraços

Bruno: paciência, paz de espírito e imunidade térmica O.O
Beijos