quarta-feira, 19 de abril de 2006

Meu objetivo não era dissertar sobre o passado, mesmo que fosse o mais próximo. No entanto, as pessoas costumam ser tão iguais: as atitudes, as falas, os gestos, enfim, de tudo isso não surgiu um assunto interessante para ser tratado ainda esta semana.
Nossa, estou impressionada com a minha, digamos, cara de pau. Vou ser sincera de uma vez, até que ouvi uns diálogos simpáticos sobre como proceder depois de fazer uma cesária, o que seria do mundo se não fosse a ultrasonografia, uma história de amor, e, ah, me lembrei de um fato revoltante: meu dvd se recusou terminantemente a rodar os três minutos finais do filme “O nome da Rosa”. Fiquei com aquele sentimento de “ahn? E...?”. Whatever, a questão é a seguinte: eu quero falar sobre o passado e ponto. E, entre um ônibus e outro, uma coisa perdida e outra, me recordei de uma balada que eu fui um mês atrás.
A intenção do programa era se divertir. Não havia, para mim e minha amiga, o propósito de flertar, mostrar o cabelo novo, a roupa nova, encontrar com alguém, o plano era: beber (no meu caso, não muito), dançar e conversar (agora, sim, muito). Colocados nestes termos, fica mais fácil entender porque, na linguagem dos meus contemporâneos, “perdi meu tempo pensando” sobre isto.
Há tempos não sabia o que era comprar ingresso, enfrentar fila, calcular consumação, mostrar RG (sim, ainda preciso disto), ser revistada, topar com gente bêbada logo à meia-noite, entre outras coisas. Senti-me alheia a tudo aquilo e, (re)criada esta distância, passei a observar melhor os comportamentos. Como de perto ninguém é normal, de longe menos ainda e, pior, é igual. Bom, se ser normal é ser igual, desfaço terminantemente esta conjectura sobre a queda de normalidade à longa distância.
Entramos na balada. Reconhecimento territorial. Parada estratégica. Indagação: “Por que a luz está acesa?”. Não, não é para te enxergar melhor, chapeuzinho vermelho. Pois é, a decoração e as paredes eram brancas e o local estava totalmente iluminado. Não havia aquele clima de balada, luzes apagadas, globos coloridos piscando, fumacinha para todo lado, a não ser pelas pessoas igualmente “bem-arrumadas”. E a festa continua...
Entre um gole e outro minha amiga vai falando: aquele é fulano, aquele é ciclano, este trabalha aqui, aquele trabalha acolá. Num súbito, eu e ela ficamos paradas sem dançar, sem conversar, só olhando e a inconformidade: o que significa isto?
Parecia uma festa na casa de algum “boyzinho” conhecido. Aquela falsa idéia de que todo mundo se conhece, soltando largos risinhos uns para os outros (afinal todos se viam); de tempo em tempo, para eles, era necessário mostrar indiferença também, deviam acreditar que, agindo assim, aproximavam-se de alguma atitude “aristocrática”; bastava concentrar a atenção por cinco minutos e você descobria quem ficou com quem, quem é amigo de quem e os “tipos” da balada tais como o galinha, o cafajeste, o tímido, o perdido, o babaca e o bêbado; a posição dos copos e do cigarro nas mãos era idêntica; parecia que uma festa na casa da Barbie tinha criado vida; e aquela luz monótona e uniforme acesa... Para quê? Dê-me uma boa razão que não inclua os burguesinhos de classe média mostrar-se uns aos outros. Pode falar que eu refuto. Qualquer outro motivo para aquilo, com certeza, passa pelo filtro da exibição, principal característica do alcance de status.
Quem ousou puxar conversa comigo, não se deu muito bem. Fingi-me de estrangeira, era assim que me sentia. Não tinha a mínima vontade de conversar com quem quer que fosse. Inútil, a decepção foi ainda maior: a perplexidade das pessoas com a minha pseudonacionalidade fizeram-nas mais ridículas do que pareciam. Tudo isto me incomodou profundamente, tanto por eles quanto por nós que estávamos incluídas neste joguete social. Fiquei o resto da balada pensando e não me conformei comigo, nem com eles, nem com a minha atitude passiva, nem com a deles. Resultado: saí com aquela sensação de vazio no estômago, aquela dificuldade de engolir qualquer coisa e a cabeça fervendo (olha que eu não estava de porre).


Comentário antes de desligar o computador e dormir:
Estava na cantina da faculdade e vi um mega-cartaz, com dizeres em mega-letras e um mega-desenho, que incitava os alunos a irem para uma mega-festa, num mega-lugar, certamente, com pessoas mega-legais. Ora essa, para se informar sobre uma palestra, um evento cultural, um grupo de estudos, uma disciplina alternativa, uma oficina, uma aula extra de línguas, temos que caçar entre as parcas folhas A4, impressas em preto e branco, distribuídas aleatoriamente e não em todos os cursos, penduradas nos murais em meio aos avisos específicos, às grades de horário e penduricalhos dos alunos. É mole? Como observou aquaman: na Unicamp, são estudantes; na Facamp, são alunos. Quanto ao mega, a aula magna fica por conta de JM com o termo “Big”, que dá no mesmo.

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