quarta-feira, 26 de abril de 2006

Passei o fim de semana em Lorena. Não visitei muita gente, mas não existe nada melhor que rever os amigos depois de tanto tempo. Trata-se do mesmo princípio de satisfação de beber água quando estamos com sede; comer quando estamos com fome; dormir quando estamos com sono; ou seja, coisas que parecem banais, mas são essenciais e, quando damos falta, passa a ganhar prioridade.
Não importa a quantidade, mas a qualidade (digo isto porque há uns três, quatro anos eu não seguia impreterivelmente esta lógica). E me sinto privilegiada, pois, no meu caso, as duas coisas andam praticamente juntas. Quando digo quantidade serve tanto para o número de pessoas, quanto para o tanto de tempo dispensado ao lado delas.

Viagem

(e entenda um pouco do Brasil, ou dos brasileiros, ou de uma brasileira, ou de tudo, ou de nada)
Nota: minha poltrona era a quatro, ao lado do motorista.

Lorena
Quase perco.

Guará
Rodoviária lotada. Não tinha lugar para estacionar.
Dez minutos. Quinze. Vinte.
-- Motorista, ali!
-- Obrigado
Tsccchhhhiiiiii. Tsssccchhiii.
Uma caminhonete particular estacionada exatamente no lugar do ônibus: dentro da plataforma.
As pessoas embarcam no meio do pátio.

Aparecida
Esterco por toda a única e principal avenida cujo acesso era para a rodoviária. Descobre-se: Congada. Tudo parado. Cavalo, criança, moto, pipoqueiro, carroça, camelô e quatro metros de largura têm a rua.
-- Moço, o senhor é daqui?
-- Sim.
-- Se eu virar aqui, chegamos na rodoviária?
-- Não sei.
-- Alguém sabe? Moça, moço, por favor.
-- Não sei, não, dona.
-- Motorista, vira. Depois a gente vê.

Quarenta minutos: três quarteirões. Uma carriola na rua. Quatro ônibus manobram, ao mesmo tempo, para desviar. Rodoviária. Transtorno. Todos querem entrar. Ninguém quer esperar o próximo.

Dutra
Motorista quase Kill Bill e os passageiros. Meu ônibus alcança o outro que saiu uma hora depois da gente, do mesmo lugar.

Taubaté
Mais pessoas. Pouco lugar.

-- Não tem espaço pra todo mundo.
-- Como assim, motorista?
-- Têm que esperar o outro.
-- Mas estamos aqui há quase uma hora.
-- Atrasamos em Aparecida. O outro está vindo. Agora não sei quem pegar: quem é das quatro ou das quatro e meia.

Discussão. Vinte minutos.

-- Dá licença, gente. Motorista, o senhor tem que embarcar quem é das quatro. Se você saiu antes do outro em Lorena, provavelmente, seus passageiros são de quem é mais cedo. Óbvio, não?!
-- Como assim? Fiquei em dúvida. Não estou certo. E se eu coloco e dá problema?
-- Não vai dar. As passagens foram vendidas por computador, olha. E, geralmente, não ocorre ter duas passagens para a mesma poltrona. Se o senhor saiu mais cedo, é claro que você vai embarcar quem é do horário anterior, não?!
-- É... você tem razão. Hey, gente!!! Aqui só aceito passagem para às quatro!! Quatro e meia é no outro!!

Meia hora.

Duas mulheres:
-- Motorista, temos o mesmo número de poltrona.
-- Como assim?
-- As duas são onze.
-- Ai, meu Deus. Comissário, por favor.
-- Pois, não.
-- Elas têm um problema no número da poltrona.
-- Deixa eu ver...Este é o número da plataforma, sua poltrona é três, aqui na frente.
-- Ai, é mesmo! Ai, motorista, desculpa. [...] Oi, moça, posso sentar? Ai que vergonha, confundi tudo.
-- Claro. Fica calma, acontece. Já fiz isto.
-- Você é daqui?...


Dutra-Dom Pedro

Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá


Campinas
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá
-- Você vai gostar de Campinas. Quando precisar, pode ficar em casa.
-- Obrigada! Qual seu orkut?

:\\\\

Humpf. Um dia ainda acabo com isto.





Rodoviária

Fila enorme: sai da estação e ocupa todo o quarteirão (da Barão de Itapura ou, pelo menos, o que seria continuação dela).

Um ser atrás de mim:
-- Meu Deus, que fila é essa??
-- Olha, querido, não sei. Só espero que não seja do banheiro. Estou apertadíssima.
-- Hahahah. Acho que está vendendo ingresso pra algum super show que não estou sabendo.
-- Hahahah. Creio que não. Campinas não tem super shows e venda de ingresso na rodoviária, na volta de um feriado, só se for pegadinha.
-- Heheheh, verdade. Será que é fila do guichê pra São Paulo?
-- Acho que não. SP tem ônibus de cinco em cinco minutos.

Desembarque.

Sim, a fila era para comprar passagem rumo à capital. Fiquei abismada.
Se Campinas estava assim, imagina São Paulo.

Tsc, tsc...

C'est Brasil.

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