terça-feira, 9 de maio de 2006

Livre. Book. Free.

Hoje acordei cedo. Fazia tempo que não tinha essa sensação da completude da manhã ou, pelo menos, da sua extensão. Não por falta do que fazer, mas sinto que começo a entrar em outro mundo. A noite, pra mim, sempre foi sagrada e dedicada ao descanso físico e mental. O sono infantil incontrolável tomava-me tão profundamente que não me permitia fazer mais nada. Hoje, consigo administrar isto e, dependendo do trabalho, fico até três horas da manhã em pé, sem café. E geralmente vou dormir não pelo sono, mas da consciência da implicação que esta atitude pode levar: mais horas perdidas pela manhã.
Sempre fui do dia. Tenho até hoje uma forte resistência em “virar o dia”. Ou seja, não dormir, ver o sol nascer e tudo mais. Para mim, isto nunca teve nenhuma veia romântica, pelo contrário, ver o amanhecer (sendo que eu não dormi) traz-me angústia e pânico. Não sei porquê. O motivo não interessa.

O romantismo, digo, este ar contemplativo dos fenômenos atmosféricos sempre esteve expresso nos horários de luminosidade. Qual não era minha alegria em adivinhar, aproximadamente, as horas quando o sol estava a pino, meio-dia. E ver o tempo passar pelo comprimento das sombras que ele produzia no chão. Minhas observações chegavam a ponto de tentar calcular a distância de alguém atrás de mim pela minha posição em relação à sua sombra. Ok, ainda faço isto. Há pouco tempo vi, de perto, um relógio de sol. Já conhecia, sabia como era e funcionava, mas não tinha me aproximado. Fascínio. Lembro-me perfeitamente: havia um desenho animado cujo personagem principal usava um relógio solar de pulso, achava o máximo. Aliás, isto faz parte dos meus desejos de “consumo” não realizados (outro interessante é um mouse em forma de caneta).

O fim da tarde é meu período predileto. Nem escuro, nem claro. E você sabe que o resultado é a noite. Como o semicerrar dos olhos para o sono. É diferente do nascente cujo destino é a luminosidade máxima do dia. É aquele momento de transição, de calmaria, como a vigília antes do profundo descanso e o desfecho com o céu azul-escuro, a primeira estrela, até a chegada sutil da Lua e suas imensuráveis companheiras luminosas. Aqui em Campinas, tampouco em São Paulo, essa visão da noite é tão bonita quanto em Lorena. Mas, devo confessar, o pôr-do-sol campineiro é um dos mais belos que já presenciei; e a cidade de São Paulo uma das mais fascinantes que conheci.

O céu pesado da madrugada, eu não costumo apreciar. A não ser, é claro, que eu tenha dormido muito bem e tenha acordado às quatro para um compromisso qualquer. Mesmo assim, assistir o nascer do dia me dá uma sensação de não-completude do processo do sono. Não vou negar que o espetáculo é maravilhoso e agradabilíssimo aos olhos, mas eu não consigo compartilhar visceralmente desta apreciação. Como a obra de arte, por exemplo, há aquelas que agradam aos olhos e outras que aos olhos também, mas o interior se exterioriza e dá a sensação de se tornar participante do processo de execução do objeto artístico. Não sou uma apreciadora exímia das artes, mas o contato que tive até agora me permitiu vivenciar estas experiências.De volta à agradável sensação de acordar cedo, dormir bem à noite e apreciar o dia, para me policiar de eventuais “excessos” do sono, ou seja, para me deslocar do planeta “Sonífera Ilha, descansa meus olhos”, mudei meus (poucos) móveis de lugar. Levei minha “cama” (dois colchões de solteiro empilhados) para o quarto. Soa estranho, não? Eles não deveriam estar lá? Pois é, isto acontece porque a janela do quarto é enorme e a cortina não eficiente no quesito bloqueio-da-luminosidade. Portanto, a “cama” fica(va) na sala até eu conseguir comprar uma mesa de estudos decente, o que me forçaria a levá-la para o quarto. Ainda estou sem a mesa, mas os colchões empilhados foram pra lá. Por mais que eu lute com os travesseiros em meu rosto e os vizinhos espiando, oito horas, no máximo, já estou desperta, totalmente tomada pelos raios de sol.

[sexta-feira, 5 de maio]

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