segunda-feira, 29 de maio de 2006

Estou me enchendo de bolacha e água. Já me disseram que preciso tomar um porre, pelo menos, uma vez na vida. Não sei... a bolacha me parece confortante. E ainda, como toda mulher moderna, fico com aquele peso de que vou engordar e me acabo nuns exercícios físicos. Fora os benefícios do “chocolate” para a produção de substâncias químicas que causam a sensação de “felicidade(?)”. Pois é, faz parte do pacote “entre na fossa por duas semanas e se sinta livre (ou pior do que antes, é a vida)”. Um dia ainda me afogo num boire. Já me contaram que algumas pessoas gostam de se fazer de vítima, digo, uma grande parte dos indivíduos inseridos na sociedade. Um dos mecanismos de cerceamento da inteligência, do qual poucas ou pouquíssimas pessoas se dispõem a sair, foi o que me disseram. E grita em meus ouvidos (dentro do fone): “A minha vida, eu preciso mudar todo dia pra escapar da rotina dos meus desejos por seus beijos...” e (com licença, vou fechar este clip horroroso do Word que não pára de olhar e piscar para mim e para a página... não é que ele pergunta se eu quero desativá-lo de vez?! Agora que ele percebeu?!) me lembrei de um verso da Hilda Hilst cuja leitura eu estava perdida, hoje, no meio da tarde: “Se te ausentas há paredes em mim. Friez de ruas duras. E um desvanecimento trêmulo de avencas. Então me amas? Te pões a perguntar. E eu repito que há paredes, friez. Há molimentos, e nem por isso há chama”. Quem sabe, sabe. E eu fico a me derramar nestas palavras, um dia ainda consigo dominá-las por inteiro, porque, confesso, algumas ainda me escapam, os sinônimos caçoam, os antônimos tergiversam, os pronomes brincam de esconde-esconde e as conjunções insistem em ser as mesmas (como aquelas “primeiras alunas” da sala que querem responder a todas as perguntas). Contudo já me provi de algumas armas: uso incessante do dicionário e uma “boa” gramática. No mais, só os verbos que trago aqui comigo, junto! Deve ser os quatro anos de jornalismo: “corte tudo, mas mantenha o verbo”. E o resto? Olho para os textos explosivamente metafóricos, substantivados, adjetivados, “pronomificados” e me pergunto: E daí? São fantásticos!

Adendo:
Outro dia, ao mostrar uma resenha (análise de “Esaú e Jacó”) para um colega, ele comentou: “Está ótimo! Sua linguagem é bem jornalística”. Não, não posso dizer precisamente qual foi meu sentimento frente a esta constatação alheia, só posso dizer que foi ambíguo. Primeiro, satisfação, afinal estava “ótimo” e minha graduação estava resumida ali em “linguagem bem jornalística”. Contudo, não era para ser “jornalístico”, entende? Era uma análise pretensamente científica e eu me deparei com o tamanho da minha restrição. Fiquei com um sentimento de limitação que me consumiu o resto da semana: Eu não sei fazer outra coisa! Obrigado pelo jornalístico, mas eu não queria escrever deste modo! Pelo menos naquele texto. Preferia um educadinho: “é, não está de todo ruim, mas tem traços analíticos”.
Daí veio o registro de um dos meus melhores professores de jornalismo, consolando meu grupo, que tinha o projeto de uma revista acadêmica: “Calma, acadêmicos escrevem muito mesmo. Vocês só vão precisar incluir [no orçamento] um frila especialista para cada tipo de assunto, porque sempre dá problema quando a gente [a classe, em geral] se mete a cortar [editar] este tipo de texto. Eles sempre reclamam e dá pau. Já soube de alguns que se recusam a dar entrevista por causa disto ou então exigem que a entrevista seja publicada na íntegra”. Caraca! Comecei a ficar com medo desta classe. Que cacete de povo metido! Põe lá a idéia central e boa! E se puder, com os verbos mais importantes, sem enrolar muito. Contudo, esqueci de informá-los, era segundo ano. Até o fim da faculdade, passei a entender a “fúria” dos acadêmicos-com-os-textos-cortados. Na maioria das vezes (pausa para a música em meus ouvidos: em francês, francês, francês, francês), uma edição não especializada pode reduzir os conceitos e literalmente destruir a construção teórica do autor. Tudo bem, retiro a metidez, mas que há uma boa técnica de embromation, isto há. E não são palavras minhas, são de dois professores universitários. Mesmo assim, há construções em que não se deve retirar nem uma vírgula, senão vira um “texticídio”. Vai entender, mundo louco!

Então, fiz só este “pequeno” adendo para expurgar o redemoinho que as mesmas palavras (afinal todos, teoricamente, não que as prioridades sejam as mesmas, têm acesso ao mesmo “vocabulário”) podem causar, inclusive em mim. De volta aos escritos com “imagens sem órbita” (aparentemente) que vi alguém se referir a um texto – muito bom, por sinal – eles me fascinam.
“Por isso hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar ‘bom dia’, de beijar o português da padaria”, não, isto não é um exemplo dos “tipos de linguagem” aos quais me referia, mas, ao ouvir este trecho berrando em meu fone, me deu uma vontade enorme de acordar embriagada por essas imagens e orbitar dentro delas!! Já pensou? E mandar a prova de amanhã, domingo, às favas e sair proclamando por aí: A sombra decapitada. Caiu fria sobre o mar... Quem foi a voz que chamou? Quem foi a voz que chamou? – Foi o cadáver do anjo. Que morto não se enterrou. Bater na porta do meu vizinho aqui, que nunca está em casa à noite, devolver o martelo e dizer: No mistério do Sem-Fim, equilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim e, no jardim, um canteiro... Ele vai perguntar: Você está louca? E eu vou responder: Não, de modo algum, sou Nabucodonosor que sonhou e se esqueceu! Oh! Venha, seja quem for, dizer sonho era o meu! Venha! Que me morro, por um sonho que se perdeu!
Depois vou mandar flores para... qual o endereço, moça? De Vila Rica ao Tejuco, lá vai carta, lá vem carta. Prendem o padre ou não prendem? Dificílima caçada! Uns dizem que já vai longe, pelo alto da serra brava; outros, que só sai de noite, fugindo, de casa em casa . Não entendi, moça. A senhora tem o CEP? Quem é o destinatário? Meninas de bicicleta. Que fagueiras pedalais. Quero ser vosso poeta! Ó transitórias estátuas. Esfuziantes de azul. Louras com peles mulatas . Vou correndo para a padaria. Ao chegar, leio bem alto o aviso que me permite o acesso à cozinha e rompo lá dentro, abraço o padeiro, dou um beijo em sua face e aqueles olhinhos vermelhos e sorriso gorducho vão me perguntar: O que aconteceu? Nada demais, senhor padeiro, só que quando ontem adormeci. Na noite de São João. Havia alegria e rumor. Estrondos de bombas luzes de Bengala (e pego uma “bengala” de pão e uso como microfone) Vozes, cantigas e risos ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei. Não ouvi mais vozes nem risos. Apenas balões. Passavam, errantes. Silenciosamente. Apenas de vez em quando. O ruído de um bonde. Cortava o silêncio. Como um túnel. Onde estavam os que há pouco. Dançavam. Cantavam. E riam. Ao pé das fogueiras acesas? – Estavam todos dormindo. Estavam todos deitados. Dormindo. Profundamente. Até aí, o vizinho já avisou o porteiro, que ligou para a administração do condomínio, que já chamou a polícia, passaram pela floricultura, onde a vendedora os recebeu: “vocês estão atrás da louca? Ela foi pra lá, na padaria”, e foram todos me encontrar. O padeiro tenta explicar: “ela deve estar sonâmbula. Diz que está todo mundo dormindo, mas acho que [sussura], na verdade, é ela mesma”. A polícia me pergunta: “O que tem a falar em sua defesa?” Eu digo: “Loucura! Gritou o patrão. Não vês o que te dou eu? – Mentira! – disse o operário. Não podes dar-me o que é meu”. – Vamos levá-la! Na delegacia, esbarro numa pobre mulher que, pela minha observação, foi presa por roubar bananas e ia para a mesma cela que eu. Sussurro em seu ouvido: Alguém devia ter contado mentiras a respeito de Joseph K., pois, não tendo feito nada de condenável, uma bela manhã, foi preso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eeee, ana clara, tu não perdes a pose, hein?! Se eu nao te conhecesse tão bem quanto acho que conheço, diria que és uma metida. Mas sei que, na frente desta tela, tem uma uma menina chorando e uma mulher escrevendo. Tudo bem, não é?! É o que mais me fascina. E não se preocupe (ou talvez sim), como diz o seu texto, tudo acaba em "processo"...
Abraços

Ana Clara disse...

Joao! Valeu pelos comentários (tb vale pelos anteriores). Não entendi a "pose"(?!) e o "metida" (?!). E parabéns, você venceu! Desvendou os caminhos da minha fuga, só falta eu descobrir os seus. Mas eu acho que já os conheço faz tempo ;)
Um longo abraço beeeem brasileiro