quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Fora do expediente
Completamente fora do expediente que eu criei para mim mesma (que coisa, não, tenho a capacidade de engessar-me), eu sentei aqui para fazer várias considerações. E, como blog, como post, lá vem o gesso, a gente costuma escolher sempre um tema, um ponto de vista, uma cena, um isto, um aquilo, tudo em um, tudo em pílulas. Fácil assim para todo mundo tomar um pouco. Não naquele lugar, óbvio, pois meu ímpeto eu-escrevo-o-que-quero-e-foda-se não está em alta.

Coloquei-me assim porque estou de mudança. E, mudando, até o visual do blog tomou outra cara. Confesso que não gostei muito do novo modelo, este cinza, este rosa, sei não, de qualquer forma, é outra coisa. Isto basta. Esta praça(?) aí no canto superior direito convenceu-me, sabem como é: praça, público, coisa, república, opinião pública, café, frança, autonomia. O som desta sequência agrada-me em vários níveis.
Piano
Por falar em som, voltei aos meus estudos em piano. Um tanto enferrujada, claro, cinco anos são cinco anos, sete notas são sete notas, oito escalas são oito escalas, dez dedos são dedos, milhões de neurônios são milhões de neurônios. Este período um tanto insano ajuda a entender o tamanho da ferrugem acumulada, mas nada substitui o prazer de usar outros registros do cérebro e de (re)apurar a audição que, no meu caso, faz todo sentido.
De volta à mudança, o papo aqui é interno, entendeu? Uma coisa de mim para mim mesma para todos lerem. Este saco de exibicionismo virtual a que todos se submetem e depois reclamam que a internet é perigosa. Mas não era isto que eu ia falar.
Machismo
A pauta da semana é machismo. Estou très très très loin de tratar deste assunto com autoridade, contudo posso tratá-lo como mulher. Não como vítima. É diferente. Sim, vivemos numa sociedade machista, é fato, e não adianta reclamar. O problema é que eu tenho raiva das mulheres, principalmente, as feministas. Sendo assim, também um nutro um sentimento de auto-crítica -- ou auto-piedade? -- que me faz atropelar todas as atitudes que se esperam de uma feminista radical (urgh); de uma reacionarizinha qualquer ( casar, cuidar do jardim, filhos, marido, shopping, compras, clube, novela e Veja); de uma jovem liberal de vinte e poucos anos; de uma vitimazinha coitada deste mundo cruel; e de todos os estereótipos que se podem atribuir a uma pessoa com o mesmo estilo de vida (que raio é isto?) que o meu. Não que eu esteja fora destes estereótipos (hoje, aliás, estou me sentindo a mais careta e conservadora dos seres-humanos), supondo que eu seja uma centopéia, estou com um pé em cada um. O mais problemático disto tudo - pelo que posso perceber ao longo das conversas por aí - é que eu não ligo a mínima para esta sociedade machista. Digo, não ligo tanto quanto as outras ligam (até as mais feministas).
Não me preocupo em tomar uma atitude que os homens esperam que uma mulher - que se importa - tome, entendeu? E isto não significa que eu abraço a causa "homens: quem precisa deles?", muito menos a "só se é feliz acompanhada" e, menos ainda, a "toda mulher precisa de um marido". Ora posso tomar uma atitude de deixar uma feminista com o peito estufado e ganhar um bottom pela causa; ora posso fazer soar vários elogios das pessoas na sala de jantar. Neste sentido, sou livre. Tá, não tão livre quanto gostaria e deveria, mas se as mulheres parassem de se preocupar e se ocupassem com temas mais relevantes, creio que as coisas tenderiam a melhorar a nosso favor com maior rapidez do que fazendo listas e mais listas de auto-ajuda para "viver bem sozinha", "superar um pé na bunda", "mandar na relação", "conquistar um homem para sempre" etc.
Os mais velhos dizem que proferir este "discurso" só é possível quando se é jovem, tem vinte e poucos anos, determinado tipo de vida, determinada cor, determinada formação, determinada criação e afins. É um saco este eu-já-sabismo dos mais velhos. Se é assim, que assim seja então, e lá vou eu me enquadrar, novamente, em algum estereótipo determinado xis, xis e ípissolon pelo censo IBGE 2006. Tá bom pra vocês? Burocratas. Como li em Tolstói, "Regra. Chame as coisas pelo nome".
Burocracia
E não é que este povo meio kólv, vlódva, óvna, itch, fka e outras combinações consonantais pavorosas tratam frequentemente da burocracia? É russo, é tcheco. Eu, hein. Como se já não bastasse a própria "complexidade" da coisa em si. Toda vez que o banco me manda preencher um formulário, dá vontade de responder naquelas línguas.
Amor
Nem as combinações consonantais pavorosas causam-me tanta inquietação quanto a linguagem deste, deste, deste, hum, desta coisa. Ultimamente, sinto, des-sinto e não sinto tantas variáveis do estoque de sentimentos-sem-nome que fugi à regra: embolei tudo num pacote e chamei de amor. E sem aquela caca romântica asquerosa que me causa náuseas. Um erro, claro, porque neste bolo de sentimentos o joio podia estar presente. E que joio. No entanto, como numa peça de teatro em que você erra a fala, só você sabe que errou; ou seja, se você souber se articular, ninguém percebe o equívoco. A não ser, é claro, o idiota que já viu a mesma peça (interpretada por você) várias vezes. Quanto aos outros, a gente supera e ainda sai, linda, com aplausos em pé, assobios, ovações e até pedidos de autógrafos.


Então
Obrigada pela poltrona.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá! Gostei da parte sobre o machismo. Acho que deveríamos parar com essas discussões sexistas bestas. Com tantas coisas em comum insistimos em frisar as diferenças. Chega de machismo e de feminismo, bom mesmo é o humanismo hehehe.