sábado, 9 de dezembro de 2006

Uso léxico

Eu queria ter o poder de usar as palavras a meu favor. Quando eu sentisse aquela raiva imensa, discorrer palavras dilacerantes, daquelas que cortam afiadas o coração das pessoas e não perdoam nem o som da vírgula. Sentei aqui para fazer isto e não consigo. Percorri toda a semântica disponível do meu limitado vocabulário e nada apareceu. Xingamentos, sim, mas eles têm poder superficial, não atingem meu objetivo e, além do mais, são muito estéreis. Eu queria usar as palavras, aquelas mesmas que com o poder comovem e, com o efeito inverso, destroem.
O não é um bom começo. Uma frase com antônimo não é tão poderosa quanto a frase negativa. Um "eu te odeio" é menos pior que um "eu não te amo". Pois na segunda, você afirma a impossibilidade de algo bom que poderia acontecer, enquanto a primeira beira a esterilidade do xingamento. Ou seja, na última, você diz sem dizer que poderia amar, e não ama; já no antônimo, você odeia, mas também pode amar (viva a contradição humana). Vejam, estou falando de algo para cortar de fora a fora a alma. Em outros contextos, um "eu te odeio" deve funcionar melhor, mas não estou muito preocupada com isto. Usei este exemplo banal, tão banal que não consegui resolver, nem assim (creio que uma lista de coisas que eu não sinto também não resolve). Dirá com o complexo jogo de sentimentos nada cristãos que borbulham aqui dentro.
Dizem que a indiferença também funciona, mas o alvo da lâmina geralmente é impreciso. E eu queria atingir ali, naquele lugar, especificamente no ponto onde até o silêncio entre o ponto final e o próximo parágrafo gera um soluço longo e apertado. Já que não sei como fazer isto, que fique registrada a minha vontade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Uow! Quanta fúria, minha cara. Ainda bem que não sou o alvo dela.
E não adianta fingir tanta bondade, quando você menos espera, você é vil (mesmo que você não queira).
Conte com as circunstâncias...

Beijos de seu adversário e admirador.

Anônimo disse...

A sua existência perto e longe de mim já me é penosa; já me custa o silêncio sofrido entre uma linha e outra que recorro para ter um pouco de você ao ler seu blog.

Anônimo disse...

Sei exatamente a angústia que essa ausência causa...
Sinto, mas não consigo transformar em palavras... Geralmente não mais do que lágrimas...