domingo, 15 de abril de 2007

21 de março
Havana Cuba
1º dia

Várias cenas tentei registrar em minha memória para passá-la aqui, mas foram tantas que guardei que uma sobrepõe-se à outra e não consigo mais marcar o exato ponto em que elas chamaram-me a atenção. No máximo, posso dizer que agora tenho vários pontos de atração (das muitas coisas que captei) coberto por um manto difuso do excesso de novidade. Este fenômeno, este sim, sintetiza a enxurrada de momentos experimentados até agora: a vista aérea noturna de Cuba.
Assim que soube, pelo televisor do avião, estar sobrevoando o solo cubano, agarrei-me à janela e lá fiquei. A lua, quando saí de Panamá, estava branca e parecia escancarar um sorriso largo de comprimento e curto de altura. À medida que nos aproximávamos de Cuba, a lua tornando-se-ia amarelada e cada vez mais desavergonhada.
Lembro-me de ter olhado para ela logo após o aviso de cerrar os cintos para o pouso: era como se os astros sorrisem para mim. Ainda tenho dúvida do caráter deles, mas, bem ou mal, era uma saudação de boas-vindas.
A partir do aviso do piloto, concentrei-me em observar o solo. Nada de grandes concentrações de luz, prédios altos, muitos espaços, cidades planejadas, nada. Como se jogassem um manto preto sobre uma cidade cheia de luz e apenas alguns pontos se destacassem sobre ele. Assim parecia o trecho entre o oeste e o leste da ilha. Por meio de um foco iluminado, pude notar que havia, abaixo de mim, uma longa estrada, mas não o sabia até então. Em toda a extensão da Rodovia, só havia um feixe de luz. Por um egoísmo qualquer (visto que isto significa falta de segurança e outras muitas coisas) considerei esta cena uma das mais belas que já vi. Concentrações pequenas de luz, muito espaçadas aparentemente sem comunicação alguma. Em anda parecido com o céu de SP, que é similar ao do Panamá e outros (nas mesmas condições).
Muy belo.
Cheguei à noite, 22:18hs, horário local. Demorei a encontrar minhas maletas e, quando saí, depois de muitas perguntas no portão de imigração, a família já me esperava.
Entrei em um carro azul, desses que aparece em todo filme que se trata de Cuba, un carrito muy bonito. Ah, não posso deixar de registrar um certo desconforto em todos os adjetivos (por mais agradáveis que o sejam) que remeto à qualquer coisa daqui.
Digo que acho os prédios, os carros, a tranquilidade e tudo o mais e já me considero uma "egoísta" de antemão. São casas velhas, sem descarga, sem infra-estrutura, mas eu as acho belíssimas. As ruas parecem que pararam no tempo, construções magníficas "preservadas" (sem o sentido técnico do termo). A casa onde estou é pequeniníssima, mas muito agradável. Tem corredores obscuros, janelas antigas, prédios que brasileiros desavisados chamariam de cortiço, mas tudo muito limpo (mesmo que não o pareça).
Não consigo entender uma palavra do que uns dizem ao passo que, com outros, entendo tudo e converso bastante. Estou muito sem graça... algumas pessoas não "gostam" (como se fosse uma questão de "gostar" ou "não", hunf) do Fidel.
Constranjo-me muitas vezes de dizer que o "atraso" deles... o tempo parado por aqui... é uma das coisas mais ricas que já vi. Mas assim é, que o saibam... e tudo se revira dentro de mim... mais um daqueles períodos de reviravolta total entre certo e errado, belo e feio e justo e injusto.

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