domingo, 15 de abril de 2007

Jardins suspensos

Para descrever o inferno usamos palavras feias. Pelo menos, é assim que muita gente faz. Reúne um grupinho considerável de léxicos horrendos e pavorosos e pronto. Diabo, demônio, capeta, cão, capiroto, coisa-ruim, cramulhão, dor, tortura, desgraça, humilhação, ferra brás, pé de bode, satanás, sete peles, tranca rua, tinhoso, sofrimento, pacto, morte, angústia, desespero, pavor, medo, pânico, orgulho, luxúria, gula, tentação, cobiça, inveja, desprezo, crueldade, vileza, gordura quente no olho, pimenta em ferida de leproso, faca nas entranhas e o inferno está montado. Acrescente-se a isso, é claro, já que é para ser infernal, algum medo ou receio da pessoa a quem queremos impressionar elevado à enésima potência. A partir deste quadro básico, com poucas variações, acreditamos que todas as coisas horríveis do mundo estão descritas e resolvidas. Não se enganem, meus caros. O inferno mesmo está presente até nas paisagens mais belas com borboletas voando, jardim planejado, céu limpo e vista para o mar. No arco-íris que se abre, na flor que brota e na graminha aparada. Basta olhar para o lado, quando seus olhos saem do outdoor de propaganda do novo condomínio.

2 comentários:

Feliz disse...

mas que diabos vc tem contra publictários?!

Anônimo disse...

Ele não entendeu nada...