segunda-feira, 31 de julho de 2006














Pacu – Um amálgama de coisas sensíveis sem nome

Se isto fosse um diário teria várias coisas a falar: as minhas aventuras pelo mundo gastronômico e artístico, o aniversário do meu pai, a entrada triunfal no universo dos adeptos da cafeína (e, a despeito da irrelevância de um mero hábito adquirido por uma jovem jornalista, é um processo interessante, a julgar pelo caráter subjetivo que tal aquisição possui), a xícara em cima do dicionário para não manchar a mesa e outras idiossincrasias cotidianas irrisórias.
Se fosse seguir a “tradição” deste blog – ou seja, nada mais do que estes detalhes funestos por uma ótica egoísta, persuasiva e, de certo modo, reflexiva –, teceria aqui uma série de assuntos acumulados nos meus arquivos mental e computacional. Há vários temas interessantes – para mim, pelo menos – como um “mini-ensaio” de Buenos Aires 100km; o mote da obra O último leitor de cujo conteúdo só conheço uma frase da sinopse; uma principiada impressão das primeiras duzentas páginas de A Montanha Mágica; e uma síntese e alguns filmes que aluguei para os dias chuvosos.
Mas, porém, contudo, entretanto, no entanto – como sempre realçam os falantes quando desejam enfatizar a adversidade das frases seguintes – um pensamento assaltou-me o final de semana inteiro. Um pensamento proibido, não, note-se, em virtude moral (daria uma discussão bastante magníloqua), mas social.
Explico: não me sinto “moralmente” culpada por pensá-lo; por outro lado, estou ciente de que, se meu círculo social tivesse acesso a tais reminiscências, minha sensibilidade perante ele tornar-se-ia ignóbil. Só pensei e senti, dado que, durante este recesso de dois dias, não consegui distinguir o limite – atualmente, imperceptível – entre estes dois, hum, mundos(?).
Admito que tal pensamento – ou sentimento, não sei, estou confusa – faz-se presente há tempos e, atualmente, não sai da minha cabeça, ou do meu coração? Ou de ambos? Entendo-o como uma mistura de angústia, saudade, alívio, tristeza, compaixão, paixão, raiva, ternura, aversão, indiferença, preocupação, mas nenhum em específico. É um amálgama de coisas sensíveis sem nome. Que tal um senti/pensamento Pacu? Em referência a Abril Despedaçado, onde nomeiam de Pacu o menino que chama Menino, ou seja, também um “sem nome”. Não encontro definição mais apropriada.
O fato é: não pude conter-me, mandei os outros temas às favas e achei conveniente mencioná-lo aqui. Vejam, não tenho um pingo de lirismo para tratar disto, não por afetação, é porque não sei mesmo. Afinal, estes “súbitos” vêm subestimando descaradamente meus estudos, leituras, afazeres, disponibilidade e todas tantas que couberem na minha pacata rotina.
E, como a maioria dos casos que permeiam o campo emocional – portanto, neste ínterim, estou incluída na normalidade boçal desta sociedade –, o responsável por tal alarde é indiferente à minha existência, não é sensível ao meu interesse, sequer aos meus devaneios, tampouco aos meus sentimentos, menos ainda, se importa com qualquer um deles.
No fundo, queria ter uma sensibilidade mais ignorante, menos compreensiva e um tanto quanto adequada...
Mentiras sinceras me interessam
Cazuza
Dica: Se alguém te fizer a fatídica pergunta: o que sentes por mim? Responderás: Pacu. E apresse-se em explicar sucintamente antes que a pessoa pense que tu a difamaste.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa... Eu nunca pensei que aquele peixe gente boa que sempre me ajuda a nao passar vergonha nos pesqueiros pudesse ser tão significativo assim. Afora estou até pensando em criar um em meu aquario...
Ps.: Vc tem que escrever um livro...

Anônimo disse...

Seja bem-vindo, companheiro de aventuras! A questão não é o peixe, mas o papel do nome na concepção do filme. Mas, tudo bem, ficamos por conta da felicidade do pesqueiro :D!
Quanto ao livro, acho que o mundo submarino não é muito minha "praia"... heheheh
Ah, "da quadrilha" foi ótimo!!!
Obrigada pela visita!! Volte sempre.
Beijos!!