segunda-feira, 31 de julho de 2006

Proeza

O farfalhar incessante de seus cabelos sobre a face impedia-a de avistar mais adiante. Os inumeráveis transeuntes do aeroporto obstavam por completo a procura pelo tal colete vermelho. Pensara por um instante tê-lo visto em meio à multidão, manteve-se impassível. Demonstrar sua ansiedade era o mesmo que entregar a alma ao vento gélido que açoitava seu corpo. E, como tal situação caberia encontrar a delimitação entre o meta e o físico, preferiu não arriscar: enfiou a mão esquerda no bolso, virou o rosto decididamente e encarou o forte sopro glacial. De frente. Firme. Suas faces enrubesciam enquanto a escassez humana procurava avisá-la de que as horas passaram mais do que L. percebera. Um pedaço de barbante, mania contraída na infância, corria todo o tempo entre os dedos e adquiria as mais diferentes formas. Seus olhos desceram lentamente até uma das mãos para verificar o resultado de sua destreza: um laço perfeito produzido apenas com a destra, truque hereditário e mais nada. O dono do colete não chegara, porém ela não perdera a habilidade. Entrou no carro, pendurou sua mais recente e antiga façanha junto ao retrovisor interno e desatou a chorar pesadamente.

[Aí, Antonio, a tentativa]

Um comentário:

Anônimo disse...

Foi um bom texto. Eu não diria que foi escrito por uma jornalista xD. Tá bom que eu não sou o melhor crítico literário do mundo, mas minha opinião deve valer alguma coisa :).
Bjo.