segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Música repetida

Um bom sinal de que há algo de podre no reino do amor -- em todas as suas acepções -- é ouvir a mesma música. Para os mais apaixonados, é a lembrança de um momento maravilhoso fixado em algum lugar do passado, que não passa de um instante idealizado a mais no grande tédio que toma conta de todo o tempo. Para os desafortunados, é a mesma porra da lembrança congelada em outro contexto: o do desespero.
Eu faço isto. Coloco a música, aquela que você conhece. E não faça esta cara de quem não entende. Prendo-me naqueles intermináveis 3 minutos e 43 segundos. No repete. Fico enjaulada em seus braços, seus cabelos, seu corpo, sua pele, sua voz, seus carinhos, travessuras, implicâncias, ciúmes, inveja, raiva, ódio e acaba. Quando a música chega ao fim, ponho para repetir. Tudo recomeça. O compasso harmonioso da introdução, dos primeiros segundos, o solo de baixo, as primeiras entradas da bateria, o discorrer do violão, o inesperado: o tempo da conquista. Depois o chacoalho, as intimidades, a guitarra, o orgasmo. E depois tudo caminhou para o fim, sem que pudéssemos perceber... dançamos a música como se ela não acabasse nunca, não preparamos todos os toillets para o fim descabido da composição e, enquanto você gritava para avisar que o volume parecia estar baixando, eu acendi um cigarro e te avisei que a vida era assim mesmo. Esta era a graça. Por enquanto, ainda não encontrei o botão repete da vida e o maço não chegou ao fim, mas, quando encontrar, te trago de volta para mim, no mais novo hit do momento. Até lá, fico aqui estendida sobre a cama, com o controle numa mão, o cigarro na outra, o repete no polegar direito, duas lágrimas nos olhos e a música amiúde em meus ouvidos.

6 comentários:

QVINTVS FABIVS PICTOR disse...

wooooow, vc escreve bem! Eu também ouço a mesma música muitas vezes, mas não tem nada a ver com o amor, eu gosto de "bater cabeça" mesmo ;-)

Anônimo disse...

Ah, menina, isso acontece com todos! Agora faz assim: enxuga as lágrimas, aperta o stop e sai um pouco. Vai ver que passa. Um beijo!

Feliz disse...

o cigarro ainda vai acabar nos matando.

Anônimo disse...

Amor novo e música velha...
Já te disse que tua frieza assusta, neh? E o extremo oposto também: a sua larga expansividade.

Pergunto:
Como pode alguém ser tão paradoxal?

Anônimo disse...

Minha querida, não vá contra o curso das coisas, não insista em repetir esses momentos. Simplesmente pare de repetir, e passe para a música seguinte, afinal, a vida tem que continuar.
Fique bem.
Um beijo de seu amigo.

Anônimo disse...

Parece tão simples dizer: "Vá para outra música..."
Dificil mesmo é querer ouvir outra música. Sei bem como é isso..
A música, bem como o cheiro, tem o maravilhoso poder de transportar-nos para uma realidade exclusiva NOSSA.