sexta-feira, 16 de junho de 2006

O mistério dos bilhetes.

Vê se alguém entende:

Faz um mês que toda segunda-feira recebo um bilhete sob minha porta.

Primeiro:
Odatluser od ierebas, airf euqiF. Ogima ues iereS !snébarap, ohlepse oa etnerf me racoloc me ogol uosnep êcov es.
(Se você pensou logo em colocar em frente ao espelho, parabéns! Serei seu amigo. Fique fria, saberei do resultado.)

Segundo: Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Vence só quem nunca consegue. Só é forte quem desanima sempre. O melhor e o mais púrpura é abdicar.

Terceiro: O domínio vence. Prossiga em não revelar sua consciência e continuará tendo-o.

Quarto: Sempre falta uma palavra, mas sempre cabe uma idéia.

Não contei, nem comentei com ninguém, é a primeira vez que falo disto. Não faço a mínima idéia de quem seja. A letra é bonita e os bilhetes são caprichosos. Passo o dia fora, não sei a que horas é colocado. Perguntei aos porteiros se alguém entra em meu nome, a resposta foi não (no entanto acrescentaram que o prédio é movimentado). Pendurei um bilhete na porta depois do terceiro, fui meio grossa, escrevi: “qual é a sua, meu?” Não sei se o misterioso leu, porque o bilhete continuava na porta mesmo depois da entrega seguinte (não sei se “sempre falta uma palavra” é a resposta da minha pergunta ou não).
Mudei há pouco tempo, não converso com nenhum vizinho, não tenho muitos contatos na cidade. Pensei na possibilidade do destinatário ser a pessoa que morava aqui antes. Fora de cogitação, o apartamento ficou vazio seis meses e era um homem, logo, não justifica o “Fique friA”.
A parte do espelho não me incomoda tanto, é meio óbvio quando as palavras estão invertidas. Pode ser um vizinho, algum dos porteiros, ou alguém que se faz de entregador de qualquer coisa (aqui não há muita apuração, é só chegar com uma maletinha e pronto, a porta é aberta). Esta última opção é a que mais parece racional e me agrada, não vejo horizonte algum em vizinhos desconhecidos e/ou porteiros que não têm o que fazer e escrevem estas coisas. Isto está me deixando intrigada. O que a Estética da abdicação tem a ver com a vitória do domínio e o cabimento da idéia? Deve ter muita coisa, mas onde esta pessoa quer chegar? Depois eu quem “bato fora da caixinha” (expressão adrianística).
Apesar da sensação de insegurança, não é que eu estou gostando da idéia?

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