domingo, 15 de outubro de 2006

Design arrojado
Ele é um compasso. Crava a ponta firme em meu sexo e todas as idiossincrasias devem ser perfeitas como a circunferência desenhada pela grafite três ponto zero. Ele insiste em dizer que eu sou a medida de todas as suas coisas, e calcula todas as extensões de uma ponta a outra dos meus dedos. Rodeia-me com os olhos de arrancar qualquer pi radiano de minh’alma e não enxerga que eu ocupo toda a área. Não mesmo. Ele é tão racional em seu dois pi erre, que se esquece do meu charme pi erre ao quadrado. Aliás, ele só se lembra quando a ponta firme de seu compasso é cambaleada por um movimento assaz calculado de meu ventre. Ele diz que não é calculado, que eu sou pura área e mais nada. Apenas uma hachura. Mas eu sei que sou a base de toda aquela frieza calculista, ele não. E não quero que saiba. Ele, sem mim, é apenas um risco traçado, sem sentido, sem conteúdo, sem cálculo e sem beleza. Eu, sem ele, sou apenas um borrão amórfico transbordante para o nada, um erro grotesco da lógica. Sucedeu que o acaso derrubou café no nosso papiro, o tempo tentou consertar com uma borracha de petróleo. Caca. As nossas invenções prodigiosas perderam-se história.

Um comentário:

Feliz disse...

não há nada que não possa ser reinventado, moça. aliás, tem...