quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Ignonímia I

O pior dos julgamentos é o tribunal do Ego.
Meu banco dos réus está repleto de "eus", eu assim, eu assado, eu cozido, eu cozinhado, eu mal passado, eu bem passado, eu... eu... Eu! Coisa mais repugnante eu em várias versões, quer coisa mais egocêntrica, sem graça, repetitiva e entendiante? Um dia, daqui muitos anos, vou virar uma Ana Clara Pessoa e inventar alguns heterônimos para, pelo menos, conseguir preencher a primeira linha da ata do meu julgamento. Por enquanto, a situação está uma zona, pior que funcionalismo público em véspera de feriado com troca de governante.
Como se não bastasse este caos (também) ignóbil, a solução dos heterônimos já começaria com um impasse: minhas pessoas não têm sexo. Digo, na verdade, elas até gostam, mas não se comportam de uma maneira constante tal que poderíamos lhe atribuir algum gênero. Para resolver este problema no plano da linguagem, pensei em atribuir nomes uni-gêneros como Lair, Alaor e acabou. Só sei estes. Mas eu não gostei destes nomes e, para conhecermos alguma coisa, temos que lhe atribuir nomes. Se eu coloco um nome que eu não gosto, já não vou gostar dos atribuídos e, por tabela, todas as pessoas serão réus e não haverá sequer um juiz, dirá um promotor. Por causa do nome.
Esta idéia do Pessoa já começou a alvoroçar o tribunal e causar ainda mais confusão, mas continuemos. Já que até alguns séculos atrás as mulheres não encenavam e, nem por isto, não deixava-se de produzir comédias... e tragédias com ambos gêneros.
E lá estão "eus", sem sexo, sem nome. Um bando de gente estúpida que não sabe o que fazer com suas bandeirinhas de plástico vagabundo, pom-pons berrantes e roupas sedutoras. Mas não adianta, o promotor, superego, é implacável. Sim. O promotor é um saco: não se rende a qualquer fantasia barata comprada na loja de conveniência, tampouco na boutique mais high-society do universo. Porém, ele se rende a coisas simples, como a menina tímida "feia-da-sala" de óculos, no último dos bancos, sentada com seus pézinhos a balançar, disposta a esperar uma eternidade para ser ouvida. E não pensem vocês que, só por isto, ele deixa de ser vil.


Um comentário:

Anônimo disse...

Vou participar do juizado popular! Eeee!!
Olha que ele tem um peso bem grande, hein, principalmente no que diz respeito aos conflitos do Id.
Beijos