sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Medianite

Para quem gosta de ouvir o que todos dizem, a média é aquela velha história de ter dois frangos, duas pessoas, uma come os dois frangos, a outra passa fome; porém, pela média, estão ambas bem alimentadas. É isso. Mas o drama da média é pior ainda. A sensação mais nauseante que já tive foi quando alguém descreveu-me outra metáfora: é quando você está com a sua cabeça no freezer e os pés no forno de derreter vidro. Ora vejam, você está bem. Na média. Isto também remete à sensação de equilíbrio, no caso, térmico. Juro que agora penso duas vezes quem se auto denomina uma pessoa "equilibrada". Penso e muito.
A minha indignação com a média também se prolonga não só pelas metáforas, mas pelo status de "mediana". Tá que Aristóteles jurou de pé junto que a virtude está no meio, mas, sempre mas (adoro as conjunções adversativas), ele também disse que para "situações extremas, atitudes extremas" e, destarte, voltamos ao equilíbrio. Ou seja, o equilíbrio (virtude) não se mede pela simples "média" das coisas e, muito menos, pelas coisas medianas. Se a situação pede revolta, façamo-na.
E é isto que quero fazer comigo. Reforma. Uma desconstrução geral das coisas que penso, sinto, faço, julgo, minto e escrevo -- sendo esta última nada mais do que a síntese das ações anteriores. Todos estes elementos ocuparam um espaço de lata de sardinha vencida, uma coisa pequena, amassada, podre, moribunda e amórfica; um produto bem asqueroso que se encaixa na média das coisas que todo mundo faz, pensa, sente, julga, etc. O quadro é alarmante: fingimos em três níveis que, para o meu horror, acabam se tornando realidade. Eu acho que penso diferente, acabo pensando igual e todo mundo que pensa igual acha que eu penso diferente sendo que, na verdade, ninguém saiu da porra do lugar. Entenderam? É tudo fingimento, mas verdade dentro da média; uma mentira sem cor profunda.
E eu vou sair disto: às.

8 comentários:

Feliz disse...

e sem perguntas, que assím é mais ecmocionante. beijo.

Ana Clara disse...

Pois sim, honey, ;)
Verás como tenho razão.

Anônimo disse...

Impetuosa!
E é isto que eu mais adoro em você.
Bjos democráticos

Anônimo disse...

Claríssima,
se tem algo que tu não és, é mediana. Você está fora da média, como vc mesma disse no "Design arrojado": um erro da lógica. Resta saber quem é teu compasso ;)
Eu estou mais para transferidor, serve?
Com mucho cariño de un niño

Anônimo disse...

Adorei o "fingimento, mas verdade dentro da média".
Vou usar, tudo bem?
Prometo dar os devidos créditos... hahuahuauha...
depois a gente conversa sobre os direitos autorais, tá!?!?
:)))
Beijos!!

Anônimo disse...

Ei, j.p.f
Voltou, hein ;)
Liga aí pra gente tomar umas! Estou lendo tua predileta: Hannah Arendt... podemos conversar :)
Beijos

Anônimo disse...

Caro Paulo,
os instrumentos de precisão também pode virar de tortura. Já um transferidor me parece bem inofensivo... ;)
Obrigada pelo comentário (finalmente escreveste aqui!)
Abracitos,

Anônimo disse...

Ei, Marvelita
fique à vontade.
Bjos